02 fevereiro 2009

União política


O Euro continua a perder valor face ao dólar norte-americano, apesar da natureza menos acomodatícia da política monetária praticada pelo Banco Central Europeu comparada com aquela praticada pela Reserva Federal. Desde o início do ano, a desvalorização acumulada é superior a 8%.

Nas últimas semanas, têm sido avançados alguns argumentos de cariz económico que, em última instância, poderão resultar no abandono do euro por parte de alguns países que fazem parte da união monetária. Entre os países com economias de menor dimensão, os principais candidatos ao abandono são Portugal, Grécia e Irlanda. E entre as economias maiores, a Itália e a Espanha estão na linha da frente.

No caso português, neste blogue, o PA já avançou a solução: uma nova moeda chamada Bento que, provavelmente, teria de desvalorizar entre 20 a 30% face ao euro (nota: este fim de semana, o Prof. Daniel Bessa na sua coluna do Expresso avançou igual estimativa...). Contudo, a questão que se coloca é a seguinte: será que o mecanismo associado à desvalorização cambial é a solução para todos os nossos problemas? Será que com uma moeda 20 ou 30% mais barata os nossos sectores exportadores disparam de novo? Confesso que estou muito céptico acerca disso. Num mundo global, como o de hoje, em que os ciclos económicos tendem a ser mais prolongados e mais homógeneos entre países distintos do que outrora, a divisa poderá não ter a mesma influência sobre o destino de uma economia. Veja-se, por exemplo, a China cuja economia, fortemente exportadora, também está a ser bastante afectada pela crise global - apesar do yuan baixo face ao dólar e euro.

Portanto, voltando a Portugal, será que temos a ganhar com um Bento ou outra coisa qualquer? Não me parece. Pelo contrário, temos muito a perder, em particular os fundos comunitários do QREN que, recorde-se, representarão um influxo de 2% do PIB ao ano até 2013 e, também, a disciplina orçamental que o Euro preconiza. E quem diz Portugal, diz a Grécia, a Irlanda, a Itália e até mesmo a Espanha. Por isso, julgo que o momento é para aguentar firme face às exigências da moeda única, fazendo os ajustamentos possíveis, e começar a discutir aquilo que o Euro verdadeiramente representa: o preâmbulo de uma união política. Os Estados Unidos da Europa!

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