No post anterior afirmei que a classe dos juristas constitui a classe profissional mais destrutiva que existe em Portugal, como de resto em qualquer país de tradição católica. Num país onde a propensão para a abstracção praticamente não existe, e a tendência para a pessoalização é elevada, eu devo esclarecer o sentido da minha tese. Eu não atribuo aos juristas portugueses qualquer defeito de carácter; pelo contrário, individualmente são tão bons portugueses como quaisquer outros. A sua propensão para a destruição resulta da combinação infeliz de dois factores que estão para além do seu próprio controlo - a cultura da sua própria profissão com a sua tendência para o conflito e a litigação e a cultura do povo português com a sua ausência de sentido da justiça.
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Neste post, pretendo utilizar uma peça de evidência empírica disponível para testar a minha tese. Refiro-me ao regime do Estado Novo. Noutra ocasião, classifiquei o regime de Salazar como o regime mais próximo do modelo católico puro que Portugal teve ao longo dos últimos cem anos. Se a minha tese é correcta, os maiores inimigos do regime do Estado Novo, aqueles que mais firmemente lutaram contra ele, e pela sua destruição, hão-de de ser juristas.
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Seriam?
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É inegável que o maior inimigo do Estado Novo foi o comunismo, e Salazar não escondia essa realidade perante ninguém. Ora, o Partido Comunista era chefiado em Portugal por Álvaro Cunhal - um jurista de formação. Seguia-se, em termos de ameaça para ao regime, a Acção Nacional Socialista, mais tarde Partido Socialista. Os dois homens de topo nesta organização eram então Mário Soares e Francisco Salgado Zenha, ambos juristas. No final do regime, um outro grande movimento oposicionista surgiu, que teve assento na então Assembleia Nacional, e que após a Revolução viria a dar origem ao PSD. Refiro-me à chamada Ala Liberal, que era liderada por três homens, Francisco Sá Carneiro, Magalhães Mota e Pinto Balsemão - todos juristas.
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