Tenho vindo a discutir neste blogue a cultura universitária portuguesa comparando-a com a cultura anglo-saxónica. O facto de as universidades mais famosas do mundo serem anglo-saxónicas cria em Portugal a ideia que o nível de exigência do seu ensino é muito superior ao português. Mas não é - é exactamente ao contrário. A superioridade da universidade anglo-saxónica, em relação à portuguesa, não reside aí, mas noutro aspecto que tratarei em futuro post.
Este post serve de ilustração à minha tese. Este comentário também. O estudante universitário português - e bem assim o estudante primário e secundário - em média, é muito superior ao estudante anglo-saxónico. E isso deve-se, em parte, à exigência acrescida a que ele é submetido nas instituições de ensino em Portugal, em comparação com os anglo-saxónicos. Isto é assim ainda hoje e era ainda mais assim nos tempos do Estado Novo em que a exigência do ensino em Portugal era muito mais elevada.
Uma pequena história pessoal servirá ainda para ilustrar a tese. Em 1978 parti para Ottawa, no Canadá, para fazer um mestrado em Economia, e depois um doutoramento. Na altura, tinha-me licenciado há um ano e era assistente de Estatística na Faculdade de Economia da Universidade do Porto.
O mestrado tinha a duração de uma ano, composto por dez cadeiras distribuídas por dois semestres. Sendo a Universidade bilingue, algumas cadeiras eram em inglês outras em francês. O meu francês era razoável porque esta era na altura a segunda língua ensinada no secundário em Portugal. O meu inglês era sofrível. Tive vinte a todas as cadeiras do mestrado, excepto uma, em que tive dezoito. (Na realidade: dez a todas as cadeiras, excepto a uma, em que tive nove. A escala numérica era de zero a dez)
No ano seguinte, foi o doutoramento. Era composto por um ano lectivo, com dez cadeiras distribuidas por dois semestres, seguido de tese. O aspecto mais curioso aí é que uma das cadeiras do doutoramento (Teoria da Política Económica) era leccionada há muitos anos por um professor que era considerado uma fera. A história é tanto mais interessante quanto os professores-fera são raros nos países anglo-saxónicos (são uma instituição predominantemente católica). Chamava-se T. K. Rymes, mais conhecido por TK (Tee Kay). As aulas começaram e os meus colegas metiam-se comigo a cada dia que passava:
-Pedro, com o TK nunca conseguirás ter A ...
(nos países anglo-saxónicos as notas são dadas por letras A, B, C, ... com correspondentes numéricos, normalmente na escala de zero a dez).
Nos seus longos anos como regente da cadeira, TK nunca tinha dado mais que B+ a um estudante de doutoramento. A minha nota foi: A-. (*)
Este post serve de ilustração à minha tese. Este comentário também. O estudante universitário português - e bem assim o estudante primário e secundário - em média, é muito superior ao estudante anglo-saxónico. E isso deve-se, em parte, à exigência acrescida a que ele é submetido nas instituições de ensino em Portugal, em comparação com os anglo-saxónicos. Isto é assim ainda hoje e era ainda mais assim nos tempos do Estado Novo em que a exigência do ensino em Portugal era muito mais elevada.
Uma pequena história pessoal servirá ainda para ilustrar a tese. Em 1978 parti para Ottawa, no Canadá, para fazer um mestrado em Economia, e depois um doutoramento. Na altura, tinha-me licenciado há um ano e era assistente de Estatística na Faculdade de Economia da Universidade do Porto.
O mestrado tinha a duração de uma ano, composto por dez cadeiras distribuídas por dois semestres. Sendo a Universidade bilingue, algumas cadeiras eram em inglês outras em francês. O meu francês era razoável porque esta era na altura a segunda língua ensinada no secundário em Portugal. O meu inglês era sofrível. Tive vinte a todas as cadeiras do mestrado, excepto uma, em que tive dezoito. (Na realidade: dez a todas as cadeiras, excepto a uma, em que tive nove. A escala numérica era de zero a dez)
No ano seguinte, foi o doutoramento. Era composto por um ano lectivo, com dez cadeiras distribuidas por dois semestres, seguido de tese. O aspecto mais curioso aí é que uma das cadeiras do doutoramento (Teoria da Política Económica) era leccionada há muitos anos por um professor que era considerado uma fera. A história é tanto mais interessante quanto os professores-fera são raros nos países anglo-saxónicos (são uma instituição predominantemente católica). Chamava-se T. K. Rymes, mais conhecido por TK (Tee Kay). As aulas começaram e os meus colegas metiam-se comigo a cada dia que passava:
-Pedro, com o TK nunca conseguirás ter A ...
(nos países anglo-saxónicos as notas são dadas por letras A, B, C, ... com correspondentes numéricos, normalmente na escala de zero a dez).
Nos seus longos anos como regente da cadeira, TK nunca tinha dado mais que B+ a um estudante de doutoramento. A minha nota foi: A-. (*)
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(*) Equivalente a dezassete na escala portuguesa.
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