Houve um tempo em que os portugueses se dividiam em três classes - clero, nobreza e povo - e eu gostaria por um momento de manter esta distinção, para colocar a pergunta: olhando para os titulares de cargos públicos da nossa democracia, em que classe é que, generalizadamente, eles seriam incluídos - no clero, na nobreza ou no povo?
Ao considerar os titulares de cargos públicos, eu estou a pensar em primeiro lugar, nos titulares do poder executivo (governantes), do poder legislativo (deputados) e do poder judicial (juízes, magistrados do Minitério Público), mas também, de forma mais ampla, nos dirigentes da administração pública (directores, presidentes de câmara, etc).
Padres não existem lá. Távoras, Lencastres, Vasconcellos, Perestrelos também não, nem sequer qualquer membro da aristocracia financeira - Espírito Santo, Champalimaud ou outro. Aquilo que é óbvio olhando para eles, e ouvindo-os falar, é que são genuinamente povo português - José Sócrates, Mário Lino, Teixeira dos Santos, Jerónimo de Sousa, Francisco Louçã, Pinto Monteiro, Cândida Almeida. Como se esperaria em democracia.
Podem os titulares de cargos públicos, mesmo no sentido mais amplo considerado acima, ser pessoas generalizadamente corruptas? Sim, mas somente se a população de onde eles foram extraídos e de que constituem um amostra representativa - o povo português - fôr uma população generalizadamente corrupta.
Pode uma população generalizadamente corrupta, já não digo viver, mas meramente sobreviver como país? Não, embora não seja meu propósito fazer a demonstração aqui. Um país feito de uma população generalizadamente corrupta paralisa e depois morre.
Os portugueses não são nada disso. Como demonstra a sua longa história, e a reputação de muitas comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo, os portugueses não têm esse defeito. Pelo contrário, são pessoas generalizadamente honestas, trabalhadoras, bondosas, humildes, respeitadoras, inteligentes, humanas, adaptáveis, imaginativas.
Mas não se pode ter tudo e há um pequeno conjunto de defeitos que a sua história está lá para demonstrar, a começar nas cantigas de escárnio e de mal-dizer. São uns más-línguas de primeira apanha, e a má-língua desemboca sempre nas formas mais elaboradas da intriga e da calúnia.
Se existem alegações generalizadas de corrupção sobre os titulares de cargos públicos, no sentido mais amplo definido acima; se os titulares de cargos públicos são representativos do povo português, como é próprio da democracia; se o povo português não é generalizadamente corrupto, mas é generalizadamente má-língua; então, a única conclusão possível, é que as alegações generalizadas de corrupção são, na generalidade, falsas (excepções são, portanto, possíveis) e resultam da má-língua generalizada do povo português e, no limite, das formas mais elaboradas em que ela se manifesta - a intriga e a calúnia.
Só assim a lógica é respeitada. Em democracia, um povo calunioso - para utilizar uma das expressões extremas da má-língua - começa por caluniar todos os que não lhe pertencem até os afastar de todos os cargos públicos. E quando só o povo ficar lá a ocupar esses cargos, na pessoa dos seus genuínos representantes, não tendo mais ninguém para caluniar, calunia-se a si próprio - na pessoa dos seus representantes.
Ao considerar os titulares de cargos públicos, eu estou a pensar em primeiro lugar, nos titulares do poder executivo (governantes), do poder legislativo (deputados) e do poder judicial (juízes, magistrados do Minitério Público), mas também, de forma mais ampla, nos dirigentes da administração pública (directores, presidentes de câmara, etc).
Padres não existem lá. Távoras, Lencastres, Vasconcellos, Perestrelos também não, nem sequer qualquer membro da aristocracia financeira - Espírito Santo, Champalimaud ou outro. Aquilo que é óbvio olhando para eles, e ouvindo-os falar, é que são genuinamente povo português - José Sócrates, Mário Lino, Teixeira dos Santos, Jerónimo de Sousa, Francisco Louçã, Pinto Monteiro, Cândida Almeida. Como se esperaria em democracia.
Podem os titulares de cargos públicos, mesmo no sentido mais amplo considerado acima, ser pessoas generalizadamente corruptas? Sim, mas somente se a população de onde eles foram extraídos e de que constituem um amostra representativa - o povo português - fôr uma população generalizadamente corrupta.
Pode uma população generalizadamente corrupta, já não digo viver, mas meramente sobreviver como país? Não, embora não seja meu propósito fazer a demonstração aqui. Um país feito de uma população generalizadamente corrupta paralisa e depois morre.
Os portugueses não são nada disso. Como demonstra a sua longa história, e a reputação de muitas comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo, os portugueses não têm esse defeito. Pelo contrário, são pessoas generalizadamente honestas, trabalhadoras, bondosas, humildes, respeitadoras, inteligentes, humanas, adaptáveis, imaginativas.
Mas não se pode ter tudo e há um pequeno conjunto de defeitos que a sua história está lá para demonstrar, a começar nas cantigas de escárnio e de mal-dizer. São uns más-línguas de primeira apanha, e a má-língua desemboca sempre nas formas mais elaboradas da intriga e da calúnia.
Se existem alegações generalizadas de corrupção sobre os titulares de cargos públicos, no sentido mais amplo definido acima; se os titulares de cargos públicos são representativos do povo português, como é próprio da democracia; se o povo português não é generalizadamente corrupto, mas é generalizadamente má-língua; então, a única conclusão possível, é que as alegações generalizadas de corrupção são, na generalidade, falsas (excepções são, portanto, possíveis) e resultam da má-língua generalizada do povo português e, no limite, das formas mais elaboradas em que ela se manifesta - a intriga e a calúnia.
Só assim a lógica é respeitada. Em democracia, um povo calunioso - para utilizar uma das expressões extremas da má-língua - começa por caluniar todos os que não lhe pertencem até os afastar de todos os cargos públicos. E quando só o povo ficar lá a ocupar esses cargos, na pessoa dos seus genuínos representantes, não tendo mais ninguém para caluniar, calunia-se a si próprio - na pessoa dos seus representantes.
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