01 fevereiro 2009

a poesia e a imaginação



Uma das diferenças que tenho vindo a estabelecer entre a cultura inglesa e a cultura portuguesa refere-se ao sentido prático da vida, muito apurado entre os ingleses, muito frágil entre os portugueses - sempre prontos a fugirem da realidade para o mundo da fantasia e da imaginação.

Considere esta passagem de Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão em O Mistério da Estrada de Sintra (a passagem citada é atribuída a Eça):

"Que transformação fecunda fez a Inglaterra à Índia? A transformação da poesia, da imaginação, do sol, numa coisa chata, trivial e cheia de carvão ... Sabem o que fizeram os transformadores ingleses? A tradução da Índia, poema misterioso, na prosa mercantil do Morning Post. Na sombra dos pagodes põem fardos de pimenta; tratam a grande raça índia, mãe do ideal, como cães irlandeses; fazem navegar no divino Ganges paquetes a três xelins por cabeça; fazem beber às bayaderas, pale ale, e ensinam-lhes o jogo do cricket; abrem squares a gás na floresta sagrada; e, sobre tudo isto, meus senhores, destronam antigos reis, misteriosos, e quase de marfim, e substituem-nos por sujeitos de suíças, crivados de dívidas, rubros de porter ...".

O crime dos ingleses na Índia foi o de terem levado para lá o comércio e a tecnologia - uma coisa chata, trivial e cheia de carvão -, substituindo a poesia e a imaginação.

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