Num post anterior, estabeleci a analogia entre a cultura católica e um triângulo assente sobre a sua base. Obviamente, a primeira encarnação cultural deste triângulo é a Igreja Católica ela própria. No topo, no vértice do triângulo, o Papa. Logo a seguir, a elite da Igreja, os cardeais e os bispos. Mais abaixo, os presbíteros e os diáconos. Na base do triângulo, os fieis católicos.
Pode a Igreja servir como modelo de organização política de uma Nação?
Eu gostaria de responder a esta questão, primeiro, em abstracto, e depois mediante um caso concreto - Portugal. E não sem antes justificar a escolha da Igreja como arquétipo organizacional. A escolha justifica-se porque a Igreja Católica é, a grande distância de todas as outras, a organização de maior sucesso que a humanidade já conheceu, qualquer que seja o critério utilizado - longevidade, riqueza, número de aderentes no mundo (1.2 biliões de fieis). Trata-se, por isso, de um modelo de organização social que não se pode ignorar na teoria política e que só tem sido ignorado por puro e obstinado preconceito.
Como notou Lord Acton (aqui) existem na Igreja todos os elementos do liberalismo moderno: eleição, representação, igualdade, tradição, ausência de poder arbitrário, governo local, dinheiro para os pobres, humanidade na punição, libertação dos escravos, ausência de legislador, julgamento pelos pares. E todos eles existem combinados em proporções harmoniosas que conferem à organização da Igreja um equilíbrio extraordinário e que é a base da sua solidez. Assim, existe na Igreja o elemento da democracia - v.g., o Papa é eleito democraticamente por um colégio de cardeais. Aquilo que não existe é democracia ilimitada e, portanto excessiva, como o sufrágio universal. O segredo da organização parece, portanto, residir, não apenas nos seus elementos estruturantes, mas também no equilíbrio em que eles são combinados.
Dentre todos os países católicos, Portugal, em vista da sua longa idade e do seu papel na propagação da fé católica, é talvez o país mais profunda e genuinamente católico do mundo, sendo a Espanha o seu único rival. Eu penso que é mesmo possível estabelecer uma correlação forte, ao longo da história, entre os altos e baixos da Igreja Católica e os altos e baixos de Portugal. Alguma dessa evidência está mesmo à mão. O final do século XIX e o princípio do século XX é geralmente considerado um dos períodos mais baixos da Igreja Católica - senão mesmo o mais baixo - ao ponto de, na altura, não faltarem observadores a prever a sua extinção. Repare como estava Portugal no mesmo período (aqui).
Sendo um dos países mais antigos e mais genuinamente católicos, a organização política que é natural ao país é a mesma da Igreja Católica, e, por isso, representada pelo mesmo triângulo. A minha tese - que tenciono desenvolver em futuros posts -, é, pois, a de que sempre que a organização social e política do país se aproximou daquela representação triangular, Portugal prosperou. Pelo contrário, sempre que se afastou dela, em geral com o triângulo a abrir pelo vértice superior, Portugal viveu em dificuldades e decaíu.
Pode a Igreja servir como modelo de organização política de uma Nação?
Eu gostaria de responder a esta questão, primeiro, em abstracto, e depois mediante um caso concreto - Portugal. E não sem antes justificar a escolha da Igreja como arquétipo organizacional. A escolha justifica-se porque a Igreja Católica é, a grande distância de todas as outras, a organização de maior sucesso que a humanidade já conheceu, qualquer que seja o critério utilizado - longevidade, riqueza, número de aderentes no mundo (1.2 biliões de fieis). Trata-se, por isso, de um modelo de organização social que não se pode ignorar na teoria política e que só tem sido ignorado por puro e obstinado preconceito.
Como notou Lord Acton (aqui) existem na Igreja todos os elementos do liberalismo moderno: eleição, representação, igualdade, tradição, ausência de poder arbitrário, governo local, dinheiro para os pobres, humanidade na punição, libertação dos escravos, ausência de legislador, julgamento pelos pares. E todos eles existem combinados em proporções harmoniosas que conferem à organização da Igreja um equilíbrio extraordinário e que é a base da sua solidez. Assim, existe na Igreja o elemento da democracia - v.g., o Papa é eleito democraticamente por um colégio de cardeais. Aquilo que não existe é democracia ilimitada e, portanto excessiva, como o sufrágio universal. O segredo da organização parece, portanto, residir, não apenas nos seus elementos estruturantes, mas também no equilíbrio em que eles são combinados.
Dentre todos os países católicos, Portugal, em vista da sua longa idade e do seu papel na propagação da fé católica, é talvez o país mais profunda e genuinamente católico do mundo, sendo a Espanha o seu único rival. Eu penso que é mesmo possível estabelecer uma correlação forte, ao longo da história, entre os altos e baixos da Igreja Católica e os altos e baixos de Portugal. Alguma dessa evidência está mesmo à mão. O final do século XIX e o princípio do século XX é geralmente considerado um dos períodos mais baixos da Igreja Católica - senão mesmo o mais baixo - ao ponto de, na altura, não faltarem observadores a prever a sua extinção. Repare como estava Portugal no mesmo período (aqui).
Sendo um dos países mais antigos e mais genuinamente católicos, a organização política que é natural ao país é a mesma da Igreja Católica, e, por isso, representada pelo mesmo triângulo. A minha tese - que tenciono desenvolver em futuros posts -, é, pois, a de que sempre que a organização social e política do país se aproximou daquela representação triangular, Portugal prosperou. Pelo contrário, sempre que se afastou dela, em geral com o triângulo a abrir pelo vértice superior, Portugal viveu em dificuldades e decaíu.
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