Esta citação que deixei aqui em lume brando durante dois dias, e que praticamente não gerou reacção, reflecte, provavelmente mais do que qualquer outra, o profundo provincianismo do Eça, a que se referia Pessoa, e que constitui ainda hoje a marca distintiva de muitos intelectuais portugueses - ou não fossem eles, em grande parte, profundamente queirosianos.
O Eça saiu, finalmente, da parvónia e foi viver para Londres (hoje basta ir à Internet para saber como se vive lá, de maneira que os provincianos não têm sequer necessidade de sair daqui). Ficou embasbacado com o que lá viu. E, olhando de longe para a sua parvónia, não pôde senão sentir desdém. E descreveu assim o Portugal que via de Inglaterra - pessoas de bem e uma raça de estúpidos. Podia ter acrescentado - e de escritores. Os escritores são pessoas que escrevem - frequentemente aquilo que lhes vem à cabeça.
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Mas aos escritores falta, por vezes, racionalidade - precisamente porque a sua função é meramente escrever - e ao Eça também faltava. Ele nunca procurou explicar-se a si próprio porque é que os portugueses eram ao mesmo tempo boas pessoas e uma raça de estúpidos. Nunca lhe ocorreu sequer a contradição, porque uma raça de estúpidos não pode dar nunca um país de boas pessoas - não porque os estúpidos, por vezes, não queiram, mas porque não conseguem.
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