20 fevereiro 2009

inventarem títulos



Vistos por um estrangeiro:

“O quinto império”

Mal chegou, Clément compreendeu a razão de ser de Portugal, precisamente a de não ter nenhuma (39)

... nós somos púnicos, parecemo-nos com os mercenários de Amílcar e todos esses matreiros do mediterrâneo. Nós somos girinos... (49)

Em português, as palavras são um simples meio de simpatia, ou o seu contrário. As pessoas perdem assim horas em conversas inúteis, só com o fim de garantir a sua estima recíproca (95)

Ela continua: «Não se pode dizer «amo-o» em português. A palavra amar é pretensiosa. Prefere-se dizer gostar sem que se possa dizer gostar de ti, este «gostar» que se aplica tanto ao pão como ao amor. Donde a nossa necessidade de torcer as frases em arabescos, o nosso sentido do compromisso (154)

Em compensação, confiavam na sua polícia que enchia as suas fichas ao mesmo tempo que as colónias penitenciárias de Caxias e de Cabo Verde. Quando um Estado é desonesto, os cidadãos são desonestos (163)

Um conquistador não é um promovido pela antiguidade e pelos concursos; Filipe Pétain não teve ânimo para ir a Argel em 1942, Kaúlza para mandar a barraca aos ares em 1973. O poder exige uma alma de Al Capone, sem rei nem lei (178)

As revoluções, quem quer que sejam os seus autores, não mudaram nada. Conduzem aos mesmos abismos. A dificuldade é mudar o homem (192)

Uma das particularidades portuguesas: o gosto da pequena polícia, a que mantém relações sentimentais como povo. A sua arte de bisbilhotar, de procurar por trás, de inventar razões e causas, a um tempo teima de funcionário e regressão à inteligência infantil. Ou bem que os portugueses não fazem nada, ou bem que vão até ao último pormenor e, chegados aí, largam tudo como de costume (196)

Cada cinquenta anos, o país sonha ser a primeira sociedade liberal avançada do mundo. Cada cinquenta anos, o libertário volta à superfície. Procura-se então um banqueiro ou um professor de economia capaz de casar meio século de bordel com O Espírito das Leis (223)

Sem endereços e todos com o mesmo nome, obedecendo a dois ou três pequenos princípios, entre os quais o de inventarem títulos... (302)

Os portugueses nunca descobriram nada, senão a Índia no século XVI".

Dominique de Roux (1977, Paris)

JB 02.20.09 - 10:31 pm # (Cortesia)

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