04 fevereiro 2009

a floresta


Neste post Teixeira de Pascoaes refere a inaptidão da cultura portuguesa para a filosofia (e para a ciência, acrescentarei eu). Pascoaes prossegue escrevendo assim:

"O português não é nada filósofo; a luz do seu olhar alumia mais do que vê; não abrange, num golpe de vista, os conhecimentos humanos, subordinando-os a uma lógica perfeita e nova que os interprete num todo harmonioso".

A razão para este fenómeno é uma excessiva propensão dos portugueses (católicos) para formas de pensamento concreto, em oposição ao pensamento abstracto mais prevalecente nos países do norte da Europa e da América do Norte (vg., ingleses, alemães, etc) (*).

O pensamento abstracto ignora (abstrai) as circunstâncias, o superficial e o acessório, para se concentrar naquilo que é permanente e essencial. O pensamento abstracto simplifica a realidade e é sobre aquilo que é permanente e essencial nela que constrói um argumento ou uma tese. O pensamento abstracto é o pensamento da ciência e da filosofia.

O pensamento concreto, pelo contrário, concentra-se nos factos singulares ou individuais dando uma importância excessiva às circunstâncias e àquilo que é superficial e acessório. Ele mistura o essencial com o acessório e exprime-se contando episódios ou histórias acerca dos factos. Nenhuma tese emerge dele, excepto, às vezes, de forma implícita, como a moral da história. Esta é a forma de pensamento propícia à literatura e à poesia.

Numa analogia simples, o pensamento abstracto ignora todas as árvores, mas sabe que a floresta é verde (a tese). Pelo contrário, o pensamento concreto conhece todas as árvores, uma a uma, nas suas peculiaridades individuais, mas não sabe de que côr é a floresta (não tem tese).

(*) O pai do pensamento asbtracto moderno é Kant.

Sem comentários: