Este post do João Miranda levanta uma questão óbvia: O que é a verdade? Eu próprio tenho utilizado abundantemente a ideia de verdade sem nunca a ter definido. Chegou a hora.
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Como seria de esperar, a definição não é a mesma na tradição católica e na tradição protestante. Na tradição católica pura a verdade é o facto, aquilo em relação ao qual não existe falsificação possível. Assim, nesta tradição, falar verdade significa falar por factos. É diferente o conceito de verdade na tradição protestante pura. Nesta tradição, a verdade é o veredicto, e falar verdade significa falar por veredictos (produzidos por um júri independente, cf. aqui).
E em Portugal, no domínio da política, o que significa hoje em dia falar verdade, que é a questão levantada pelo JM no seu post? Portugal é um país de tradição católica, mas, nas condições actuais, não na sua forma pura. Na realidade, as suas intituições políticas - que são as instituições da democracia liberal - são importadas da tradição prostestante. Por isso, em política, falar verdade em Portugal significa hoje em dia falar por veredictos.
Porém, uma qualificação é necessária. Como tenho repetidamente ilustrado (vg, a propósito dos sistemas de educação e de justiça), sempre que uma instituição de origem protestante é importada em Portugal, ela ganha um outro significado e produz outros efeitos que são geralmente opostos àqueles que ela produzia na sua cultura original. Esta perversidade é o resultado da reacção de defesa e adaptação da cultura católica à intrusão de uma instituição que lhe é estranha.
A questão pertinente é, pois, a de saber em que é que a instituição protestante do veredicto - que é sinónimo de verdade - é modificada quando é recebida na cultura católica de Portugal. A resposta está parcialmente contida no post anterior. Quando os portugueses são chamados a julgar e a produzir um veredicto, a sua parcialidade radical leva-os sempre a decidir a seu próprio favor ou dos seus. Daí que o veredicto - a verdade, na cultura protestante - ganhe um significado muito diferente em Portugal daquele que tem na sua cultura de origem. Nesta, o veredicto é um julgamento pronunciado por um júri independente. Em Portugal, um veredicto é um julgamento pronunciado pelo próprio.
Segue-se que, no regime actual de democracia em Portugal, falar verdade significa falar por veredictos pronunciados pelo próprio - isto é, cada um dizer e acreditar naquilo que lhe vem à cabeça.
Como seria de esperar, a definição não é a mesma na tradição católica e na tradição protestante. Na tradição católica pura a verdade é o facto, aquilo em relação ao qual não existe falsificação possível. Assim, nesta tradição, falar verdade significa falar por factos. É diferente o conceito de verdade na tradição protestante pura. Nesta tradição, a verdade é o veredicto, e falar verdade significa falar por veredictos (produzidos por um júri independente, cf. aqui).
E em Portugal, no domínio da política, o que significa hoje em dia falar verdade, que é a questão levantada pelo JM no seu post? Portugal é um país de tradição católica, mas, nas condições actuais, não na sua forma pura. Na realidade, as suas intituições políticas - que são as instituições da democracia liberal - são importadas da tradição prostestante. Por isso, em política, falar verdade em Portugal significa hoje em dia falar por veredictos.
Porém, uma qualificação é necessária. Como tenho repetidamente ilustrado (vg, a propósito dos sistemas de educação e de justiça), sempre que uma instituição de origem protestante é importada em Portugal, ela ganha um outro significado e produz outros efeitos que são geralmente opostos àqueles que ela produzia na sua cultura original. Esta perversidade é o resultado da reacção de defesa e adaptação da cultura católica à intrusão de uma instituição que lhe é estranha.
A questão pertinente é, pois, a de saber em que é que a instituição protestante do veredicto - que é sinónimo de verdade - é modificada quando é recebida na cultura católica de Portugal. A resposta está parcialmente contida no post anterior. Quando os portugueses são chamados a julgar e a produzir um veredicto, a sua parcialidade radical leva-os sempre a decidir a seu próprio favor ou dos seus. Daí que o veredicto - a verdade, na cultura protestante - ganhe um significado muito diferente em Portugal daquele que tem na sua cultura de origem. Nesta, o veredicto é um julgamento pronunciado por um júri independente. Em Portugal, um veredicto é um julgamento pronunciado pelo próprio.
Segue-se que, no regime actual de democracia em Portugal, falar verdade significa falar por veredictos pronunciados pelo próprio - isto é, cada um dizer e acreditar naquilo que lhe vem à cabeça.
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