06 janeiro 2009

Tristes e desavergonhados


As acusações que pendem sobre os ex-administradores do BCP continuam a acumular-se. Hoje, sabe-se que, aos nove executivos já notificados ao abrigo do processo, se juntam entretanto mais dois nomes - todos indicados pela CMVM e BdP. Nas últimas semanas, conforme noticiado pelo Expresso numa das últimas edições de 2008, as entidades reguladoras acusaram a antiga administração do banco de negociar acções próprias, através de sociedades "offshore", com o suposto intuito de impulsionar o seu preço em bolsa.

De acordo com o que foi relatado, um dos critérios subjacentes à política de remuneração variável da administração era precisamente a cotação do título em bolsa. Tudo o resto igual, quanto mais alta estivesse mais elevados seriam os prémios dos administradores. A confirmar-se, tratar-se-á do maior caso de "Inside Trading" alguma vez visto em Portugal. Seria a confirmação de que a administração negociou os títulos da própria instituição com base em informação privilegiada e em benefício próprio. Na minha opinião, um delito tão ou mais grave do que aquilo que aconteceu no BPN e que levou à cadeia o principal executivo deste banco.

Em democracia, todos temos direito à presunção de inocência. Mas todos temos também o direito à nossa opinião. E, neste caso, o conjunto de elementos que tem vindo a público no último ano e meio leva-me a concluir que, provavelmente, as acusações serão verdadeiras. Infelizmente - por duas razões. Primeiro, porque se trata do maior banco de retalho em Portugal e aquele que durante muitos anos foi considerado um exemplo de sucesso. Segundo, porque a forma relativamente ligeira com que o assunto tem sido tratado indica que ninguém será punido com a severidade que um caso desta gravidade merece. E, assim, mais uma vez, ficaremos todos a olhar uns para os outros, surpreendidos e revoltados com uma dúzia de desavergonhados (utilizando a expressão de Medina Carreira), mas quietos perante a inoperância da Justiça e das restantes instituições democráticas. Uma tristeza.

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