A novela BPP está aí para durar, em particular se a providência cautelar, submetida ao tribunal pelo advogado que defende alguns clientes do banco, for deferida. Contudo, para que este caso seja devidamente entendido pelos portugueses seria conveniente que os jornais utilizassem certas expressões com maior rigor. Por exemplo, tem-se falado muito nas aplicações de retorno absoluto do BPP, como sendo aplicações de capital garantido. Erro crasso!
A expressão "retorno absoluto", em oposição ao "retorno relativo", diz respeito à filosofia seguida na gestão da carteira de investimento do cliente. O "retorno absoluto" indica apenas que o objectivo é a busca de rentabilidade positiva independentemente das circunstâncias de mercado, ou seja, assume-se que a gestão não estará necessariamente correlacionada com os principais índices de mercado - em especial se estes vierem a desvalorizar! É o contrário, por exemplo, de se investir num fundo de acções que se queira indexado ao índice geral de acções (por exemplo, um fundo de acções português estatutariamente correlacionado com o PSI20). Neste caso, a rentabilidade final do fundo deve ser comparada com a taxa de retorno do PSI20 (retorno relativo). Contudo, no caso inicial, do retorno absoluto, a rentabilidade final deve ser comparada com a taxa de juro sem risco (o depósito a prazo) e não com o comportamento geral dos mercados. Este é o mandato que muitos gestores profissionais procuram junto dos seus clientes e que se reveste na tomada de algum risco de capital com vista à obtenção de rentabilidade superior ao retorno sem risco.
Portanto, sendo certo que alguns clientes foram na conversa dos comerciais do banco e foram ludibriados pelo contrato de gestão, também é certo que a ideia de associar uma carteira gerida através de uma filosofia de "retorno absoluto" à noção de capital garantido é tecnicamente incorrecta. Os jornalistas, nomeadamente aqueles que escrevem em publicações especializadas, deviam saber disso.
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