24 janeiro 2009

o próprio povo não acredita



Os ingleses vivem há séculos em democracia e sempre se deram bem com ela. Os portugueses, desde 1820, fizeram várias tentativas - e falharam sempre. A razão é cultural e tem múltiplas manifestações.

Para os ingleses a democracia é uma instituição que promove a coesão nacional. Pelo contrário, para os portugueses é uma instituição que sempre os dividiu. Para os ingleses, é menos importante o homem que, em certo momento, foi eleito primeiro-ministro, do que o facto de ter sido o povo a escolhê-lo. É este o elemento coesivo da democracia em Inglaterra - a supremacia do povo sobre o homem. Para os portugueses, ao invés, é mais importante o homem eleito do que o povo que o elegeu. Daí o carácter fracturante que a democracia possui em Portugal: dá mais importância ao homem eleito do que ao povo.

Uma afronta ao PM inglês é entendida no país como uma afronta ao povo inglês, porque foi este que o escolheu. Pelo contrário, uma afronta ao PM português é entendida como uma ofensa, quando muito, a metade dos portugueses - aquela que o elegeu. A outra metade até regozija, porque acha que o povo escolheu mal.

Mas um país em que, em cada momento, metade do povo acha que o povo escolheu mal, e essa metade é hoje uma e amanhã a outra - consoante o partido que foi eleito para o poder - é um país em que o próprio povo não acredita que o povo saiba escolher. Por outras palavras, é um país que não acredita na democracia.

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