21 janeiro 2009

bom da cabeça



Uma das medidas mais utilizadas de competitividade entre países são os chamados custos unitários em trabalho (CUT). Como o nome indica, eles medem os custos de uma unidade de produção (v.g., uma cadeira, uma pasta para os dentes, 1 kg de manteiga, etc) em trabalho. Embora cada unidade de produção inclua outros custos (vg., custos de capital e lucros), a verdade é que tipicamente 70 a 75% dos custos totais de produção são em trabalho. Daí a importância deste indicador.

Os CUT definem-se como os custos totais em trabalho divididos pelo volume de produção, CUT=s.T/Q, onde s é o salário médio por trabalhador, T o número de trabalhadores e Q a quantidade de produção. Uma pequena manipulação da expressão anterior, permite escrevê-la de outra forma: CUT = s/(Q/T) onde no numerador continua a figurar o salário médio por trabalhador (s) e no denominador figura agora a produtividade média do trabalho (Q/T). Portanto, os CUT sobem quando os salários aumentam mais que a produtividade, e descem no caso contrário.

Neste gráfico, está a evolução dos CUT para a Alemanha e para Portugal desde a criação do euro. Na Alemanha mantiveram-se constantes, na realidade até cairam ligeiramente; em Portugal subiram 25%. Por outras palavras, o custo de produzir uma cadeira na Alemanha manteve-se constante desde a introdução do euro; o custo de produzir uma cadeira semelhante em Portugal aumentou 25% no mesmo período.

Onde é que os portugueses vão comprar cadeiras? Na Alemanha. O que acontece às fábricas de cadeiras em Portugal? Vão à falência. E aos trabalhadores portugueses? Vão para o desemprego.

E se, em lugar do euro, existissem o marco e o escudo? O escudo desvalorizava 25% face ao marco, e os portugueses continuariam a comprar cadeiras em Portugal, a manter as suas fábricas em actividade, e os seus trabalhadores ocupados.

Quem acreditou - e, temos de admitir, foram quase todos os portugueses - que, a prazo, era possível manter dois países como Portugal e a Alemanha com uma moeda única - o euro -, não estava bom da cabeça. Vão-se desenganar. Portugal vai saír do euro. É necessário tempo. Mas tempo é tudo o que é necessário. Por isso, haveria conveniência que nós começássemos a especular acerca de como vamos reorganizar a nossa vida económica fora do euro.

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