18 dezembro 2008

en passant


A forma como o Estado tem dado o dinheiro dos contribuintes aos bancos e às grandes empresas em dificuldades nos EUA e em Portugal ilustra bem a diferença entre a cultura democrática existente entre os dois países.

Nos EUA os presidentes dos bancos e das grandes companhias são chamados ao Congresso a responder perante os representantes da Nação porque precisam do dinheiro, qual a situação das empresas, quais as razões que levaram a esta situação, se o dinheiro que pedem resolve todos os problemas ou se é apenas uma primeira prestação de muitas outras a seguir no futuro. Muitos saem de lá merecidamente humilhados, com dinheiro do contribuinte ou sem dinheiro do contribuinte, como sucedeu com a indústria automóvel. Neste último caso, foram mesmos as inquirições televisionadas no Congresso aos responsáveis da indústria (CEO's, dirigentes sindicais, experts, etc.) que criaram o consenso na opinião pública de que nenhuma ajuda deveria ser concedida.

Em Portugal tudo é diferente. O primeiro-ministro aproveitou ontem a sua ida quinzenal à Assembleia da República para anunciar en passant que o Estado vai injectar mais mil milhões de euros na CGD. Nenhuma explicação, nem perante os representantes da Nação, muito menos perante os contribuintes. Estes, pagam e calam. Ficam sem saber quais as causas desta necessidade repentina da Caixa por mais capital; ficam sem saber se outros aumentos de capital vão ser necessários no futuro (este ano já foram feitos três), ou se este resolve todos os problemas; ficam, enfim, sem saber quais os actos de gestão que conduziram à presente situação e que medidas os responsáveis da Caixa estão dispostos a adoptar para os prevenir no futuro e reestruturar a instituição (vg., redução dos vencimentos da administração, redução das pensões de reforma concedidas, etc.) Atiram-se mil milhões para a Caixa como se poderia ter atirado muito mais ou muito menos, e nada se exige da administração em contrapartida, pelo menos que seja público.

No meio desta displicência, apenas um elemento tranquilizador. Questionado pelos jornalistas, o Presidente da Caixa afirmou que este ano não haverá necessidade de mais aumentos de capital. Como ainda faltam duas semanas para o final do ano, todos os cidadãos contribuintes podem passar o Natal em paz.

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