O escândalo "Madoff" (lê-se MAY-off) é apenas o mais recente episódio na interminável série de eventos que este ano têm abanado Wall Street do princípio ao fim. Já não bastavam as falências da Fannie Mae, da Freddie Mac, da Lehman Brothers, da AIG, entre outros. Como também agora foi desmascarado o maior esquema de Ponzi da história. Trata-se da versão norte-americana da nossa famosa Dona Branca...multiplicado 1500 vezes!
Um esquema de Ponzi é um modelo cujo sucesso depende de a) da diferença entre as promessas realizadas aos clientes e o resultado das aplicações realizadas e; b) da permanente entrada de novos clientes. Em geral, funciona da seguinte forma: A recebe 100 de B a quem promete X, depois A recebe outros 100 de C a quem volta a prometer X, e depois ainda recebe mais 100 de D novamente na promessa de lhe pagar X. Entretanto, A com os 100 que recebeu de C paga X a B. E paga X a C com parte do que recebeu de D. A falência deste modelo surge no dia em que as novas entradas dos clientes mais recentes não chegam para pagar os juros garantidos aos clientes mais antigos.
Contudo, o esquema de Madoff estava bem montado. Ao longo de décadas, Bernard Madoff acumulou um capital de credibilidade invejável, tendo até sido presidente da bolsa Nasdaq, que lhe permitiu chegar às maiores fortunas mundiais, entre privados e institucionais, norte-americanos e estrangeiros. Madoff geria todas estas carteiras de investimento em bloco - um "Hedge Fund" -, no montante global de 50 mil milhões de dólares, em que cada participante tinha uma percentagem das mais valias. O que mais impressionava em Madoff era a consistência dos seus retornos. Um ou dois por cento ao mês - certinho, sem oscliações nem meses negativos. Adicionalmente, Madoff construiu um negócio de corretagem, de intermediação entre compradores e vendedores - um "Market Maker".
Os factores que despoletaram a queda de Madoff foram três. Primeiro, as quedas da bolsa que, por certo, agravaram o diferencial entre o verdadeiro retorno das suas aplicações e aquilo que contava aos clientes. Segundo, em face das quedas na bolsa, alguns clientes terão tentado resgatar as suas carteiras, ao ponto de conduzir o sistema de Madoff à ruptura. Terceiro, na minha opinião o elemento mais importante, os intermediários que Madoff contratava para lhe apresentarem clientes. De acordo com a Bloomberg, os fundos de "Hedge Funds" que todos os anos lhe canalizavam novos clientes tinham a haver mais de 300 milhões de dólares em comissões de retrocessão, que venciam agora no final do ano. Quando os activos de Madoff, artificialmente inflaccionados pelas mentiras do gestor e verdadeiramente dizimados pela queda das bolsas, desceram abaixo dos 300 milhões de dólares, já não havia voltar a dar. A fuga para a frente tinha acabado.
Sem comentários:
Enviar um comentário