O João Miranda levanta neste post a questão de saber se, com a eleição de Obama, a América se está a tornar mais latinizada ou, como eu preferiria pôr a questão, mais católica. A minha resposta é sim.
Os emigrantes latinos ou de cultura católica, incluindo os portugueses, na América sempre votaram mais depressa no Partido Democrático do que no Partido Republicano (ver aqui a distribuição de votos nas últimas eleições). Tal como sempre preferiram o Partido Liberal (esquerda) no Canadá ao Partido Conservador (direita), ou o Partido Trabalhista ao Partido Conservador no Reino Unido. A cultura católica, com o ênfase que coloca na pessoalidade e na solidariedade, é muito mais próxima desses partidos do que dos seus opositores.
Questão diferente é a de saber se, embora a eleição de Obama represente um passo na latinização ou catolicização da América, esta tendência, a prosseguir, tem algumas chances de sucesso. A minha resposta é um enfático não. A cultura católica ou latina destruiria a América tal como a conhecemos, um país de emigrantes que convivem segregadamente em comunidades culturais distintas e que não se misturam.
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É preciso salientar que a América não é nenhum Brasil onde o multiculturalismo significa miscigenação e uma cultura razoavelmemnte homógénea. O multiculturalismo americano, tal como o britânico e o de todas as ex-colónias britânicas (v.g., Canadá, Austrália) é caracterizado pela segregação, isto é, pela convivência no mesmo espaço de um mosaico de comunidades culturais distintas.
Numa série de posts que publiquei há já alguns meses em estrangeiro neste blogue procurei sintetizar a diferença principal entre a cultura católica e a cultura protestante, a qual pode resumir-se assim. O lema da cultura católica é: "Podes comportar-te à vontade de maneira diferente de nós, não podes é pensar, e sobretudo falar, de maneira diferente de nós". Pelo contrário, o lema da cultura protestante é: "Podes pensar e falar à vontade de maneira diferente de nós. Não podes é comportar-te de maneira diferente de nós".
Não é difícil imaginar os EUA, um mosaico cultural de predomínio protestante, a serem tomados pela cultura católica, dando a cada comunidade cultural a liberdade de se comportar como quiser. O resultado seria o caos e a destruição do país. Daí a reacção quase instintiva (cultural) que existe na sociedade americana de maioria protestante contra a cultura católica. Cada vez que um católico chega ou ameaça chegar à Presidência dos EUA a sua vida está em risco. Como os irmãos John and Robert Kennedy demonstram.
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Obama não é católico, como JFK. Mas, congregando católicos e negros, cuja cultura originária é também altamente personalizada e solidária - alguns diriam, tribal - Obama representa uma ameaça ainda maior para a cultura predominantemente protestante dos EUA. Por isso, eu não estou nada optimista quanto ao futuro. Deus o proteja.
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