11 novembro 2008

os azeites


As ideias não são tomadas a sério pela generalidade da população nos países de tradição católica e, por isso, o debate racional não é valorizado. Daí que exista na nossa cultura uma grande multiplicidade de motivos aceitáveis para interromper, suspender, diferir, cancelar e inviabilizar o debate racional, que nunca seriam aceites - e, na realidade, não são aceites - na cultura protestante. Gostaria, neste post, de me referir a um deles - o azeite.

O observador vindo de um país de tradição protestante dificilmente suspeitaria da importância do azeite como substituto da faculdade da razão nos países de tradição católica. Banfield pôde observar aqui a existência deste fenómeno no exercício da autoridade parental, mas ele é muito mais generalizado nas relações interpessoais nos países de tradição católica.

Aquilo que Banfield observou foi que o exercício da autoridade parental de punição ou retribuição em Montegranesi, sul de Itália, dependia muito mais de o pai estar com os azeites, ou não, do que da verificação de algum comportamento objectivamente reprovável ou louvável por parte dos filhos.

Na realidade, ninguém, na nossa cultura, ousa falar ao pai, ao patrão, ao professor, ao vizinho do lado ou ao colega de profissão quando ele está com os azeites. Os azeites são a instituição da cultura católica mediante a qual um homem se atribui a si próprio uma licença para suspender a faculdade da razão, e poder disparatar à vontade e ofender livremente todos os que o rodeiam. Nesta cultura, o debate racional somente dura até ao momento em que um dos participantes, possuindo algum ascendente sobre os demais, levanta a voz e declara caprichosa e solenemente. "Eu hoje estou com os azeites!". Os outros não abrirão mais a boca.

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