A tendência dos portugueses - muito mais de uma certa classe pretensamente intelectual, do que do povo propriamente dito - para, fora do seu círculo restrito de família e de amigos, dizerem mal uns dos outros - diminuindo-os, insultando-os, caluniando-os, ofendendo-os, enfim, fazendo-os parecer mal de todas as formas e feitios - é, de longe, na minha opinião, a mais execrável e a mais miserável característica da cultura portuguesa - uma cultura admirável em muitos outros aspectos. E um homem às vezes não se livra disto nem depois da morte.
Ontem, encontrei numa livraria uma nova edição em livro (citado aqui) das célebres entrevistas de António Ferro a Salazar, com o Prefácio de Fernando Rosas. Na banda interior da capa é normal os livros conterem um pequeno número de frases que sintetizam a tese do autor ou - no caso de um livro altamente pessoalizado como este - fazem sobressair um traço dominante do seu carácter. No caso deste livro, aparece a citação de uma pergunta de António Ferro a Salazar, e a resposta deste.
A citação é a seguinte e refere-se aos célebres safanões:
"António Ferro:
"Mas há violências condenáveis..."
Salazar:
"... e eu pergunto a mim próprio (...) se não se justifica largamente meia dúzia de safanões a tempo nessas criaturas sinistras..."
O que é que se há-de pensar de um político, ainda por cima com poderes ditatoriais, que assim, a frio, sem que nada o justifique, e sem quaisquer qualificações, se propõe distribuir safanões aos cidadãos do seu país que ele, de forma aparentemente arbitrária, considera criaturas sinistras? Não se pode pensar grande coisa.
Pois bem, a resposta completa de Salazar é a seguinte:
"Quero informá-lo, no entanto, de que se chegou à conclusão de que os presos maltratados eram sempre, ou quase sempre, temíveis bombistas que se recusavam a confessar, apesar de todas as habilidades da Polícia, onde tinham escondido as suas armas criminosas e mortais. Só depois de empregar esses meios violentos é que eles se decidiam a dizer a verdade".
E logo a seguir, concluindo:
"E eu pergunto a mim próprio, continuando a reprimir tais abusos, se a vida de algumas crianças e de algumas pessoas indefesas não vale bem, não justifica largamente, meia dúzia de safanões a tempo nessas criaturas sinistras..."
(António Ferro, op. cit., p. 54, bold meu).
Ontem, encontrei numa livraria uma nova edição em livro (citado aqui) das célebres entrevistas de António Ferro a Salazar, com o Prefácio de Fernando Rosas. Na banda interior da capa é normal os livros conterem um pequeno número de frases que sintetizam a tese do autor ou - no caso de um livro altamente pessoalizado como este - fazem sobressair um traço dominante do seu carácter. No caso deste livro, aparece a citação de uma pergunta de António Ferro a Salazar, e a resposta deste.
A citação é a seguinte e refere-se aos célebres safanões:
"António Ferro:
"Mas há violências condenáveis..."
Salazar:
"... e eu pergunto a mim próprio (...) se não se justifica largamente meia dúzia de safanões a tempo nessas criaturas sinistras..."
O que é que se há-de pensar de um político, ainda por cima com poderes ditatoriais, que assim, a frio, sem que nada o justifique, e sem quaisquer qualificações, se propõe distribuir safanões aos cidadãos do seu país que ele, de forma aparentemente arbitrária, considera criaturas sinistras? Não se pode pensar grande coisa.
Pois bem, a resposta completa de Salazar é a seguinte:
"Quero informá-lo, no entanto, de que se chegou à conclusão de que os presos maltratados eram sempre, ou quase sempre, temíveis bombistas que se recusavam a confessar, apesar de todas as habilidades da Polícia, onde tinham escondido as suas armas criminosas e mortais. Só depois de empregar esses meios violentos é que eles se decidiam a dizer a verdade".
E logo a seguir, concluindo:
"E eu pergunto a mim próprio, continuando a reprimir tais abusos, se a vida de algumas crianças e de algumas pessoas indefesas não vale bem, não justifica largamente, meia dúzia de safanões a tempo nessas criaturas sinistras..."
(António Ferro, op. cit., p. 54, bold meu).
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