02 novembro 2008

Na situação limite


O anúncio da nacionalização do BPN e da injecção de capital por parte do Estado em outros bancos portugueses marca a chegada da crise financeira ao país em toda a sua intensidade.

As medidas são idênticas àquelas que têm sido adoptadas em outros países da Europa e deslocam a focalização da crise dos bancos para o Estado. O Estado português vai ter agora de ir pedir dinheiro emprestado para dar realidade a estas medidas. E é neste ponto que vai ser testada a fragilidade relativa da economia portuguesa.

O mercado da dívida pública tinha já vindo a descontar estes desenvolvimentos durante a semana passada. No espaço de apenas uma semana, o spread dos títulos da dívida pública nacional a 10 anos, face aos alemães, aumentou de 68 para 90 pontos base (pb), um aumento de cerca de 40% (ver aqui). Idêntico comportamento tiveram os países com uma situação da balança de transacções correntes idêntica ou pior que a portuguesa - os PIGS.

É este indicador que deverá ser observado durante os próximos dias, e a Grécia pode servir de indicador avançado daquilo que vai acontecer a Portugal. Um aumento do spread, ao mesmo tempo que aumenta o custo (juro) do financiamento do Estado, significa também um aumento do risco de que o Estado nacional entre em default e se mostre incapaz de vir a pagar as suas dívidas. O valor de 1.00 é considerado um alerta, já ultrapassado pela Grécia e a Itália e que será muito provavelmente ultrapassado já amanhã por Portugal.

Na situação limite em que o spread da dívida pública portuguesa aumentasse enormemente, tal significaria, na prática, que não existiria ninguém disposto a emprestar dinheiro ao Estado português. Nessa situação limite, os bancos iriam mesmo à falência, o desemprego seria em massa, as empresas fechariam também em massa, o nível de vida dos portugueses sofreria uma redução abrupta e drástica, as taxas de juro aumentariam consideravelmente, seríamos obrigados a abandonar o euro e regressaríamos a condições praticamente de autarcia. Por outras palavras, teríamos, praticamente, de recomeçar o país de novo. Não é um cenário de excluir, sobretudo se a crise financeira se agravar nos outros países da Europa.

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