15 novembro 2008

Morreu


Num post anterior referi brevemente os partidos políticos como os principais agentes da censura em Portugal no regime democrático. É um assunto ao qual tenciono voltar com mais desenvolvimento.

Gostaria, no entanto, de deixar já aqui a minha pista de lançamento neste tema. Parto dos factos da realidade. Hoje em dia as únicas ideias (e pessoas) que passam para a opinião pública são aquelas que são favoráveis aos interesses de algum partido político. Dir-se-à que, existindo vários partidos políticos, existe pluralismo de ideias em Portugal. É verdade, embora as ideias dos partidos, sobretudo dos maiores, sejam cada vez mais convergentes.

O ponto importante é que aquilo que não passa de certeza para a opinião pública são ideias (e pessoas) independentes, aquelas que certa ou erradamente, mas desinteressadamente, procuram chegar à verdade. Essas não passam porque são os partidos políticos que não deixam, matando as ideias e os seus autores.

Eu próprio acabei de admitir no meu último post que cessei a minha actividade pública vergado ao peso do abuso pessoal continuado, literalmente nas cordas e, em última instância, no tapete. Fui um dos últimos resistentes públicos da independência de espírito, e acabei derrotado pelas massas, como não podia deixar de ser.

Procure agora responder à questão: quantos opinion makers conhece hoje na rádio, na televisão ou nos jornais que não tenham, ou tenham tido, relações partidárias? Eu já ficaria satisfeito se indicasse um. Por outras palavras, quantos Pedros Arrojas conhece hoje em dia? Eu vou revelar-lhe um segredo: até esse já não existe, certamente que não na versão original. Morreu.

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