Pobres miseráveis, povos insensatos, cheios de opiniões sobre o vosso mal e cegos ao vosso bem. Deixais levar, debaixo do vosso olhar, o melhor do vosso rendimento, deixais pilhar os campos e roubar das casas o melhor do recheio.
Viveis de tal modo que já nada é vosso. Parece que já consideraríeis uma grande felicidade que vos deixassem metade dos vossos bens, das vossas famílias, das vossas vidas.
E todas estas desgraças, infelicidades e ruína, não vêm de inimigos, mas do inimigo que vós próprios transformastes no que é, por quem vós estais dispostos a ir à guerra e pela grandeza de quem estaríeis dispostos a dar a vida. Esse mestre, contudo, só tem dois olhos, duas mãos, um corpo e nada mais do que o último dos habitantes das nossas cidades. O que ele tem a mais são os meios que vós próprios lhe dais para vos destruir. De onde obtém ele todos os olhos que vos espiam, senão de vós próprios? E as mãos que vos maltratam, não são as vossas?
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Vós semeais os campos para que ele os devaste, recheais as vossas casas para que ele as pilhe, criais as vossas filhas para que ele satisfaça a sua luxúria, criais os vossos filhos para que ele os faça soldados, no melhor dos casos, para que os leve à guerra, ao talho, para que os torne agentes das suas manigâncias e executores das suas vinganças.
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Sentenciem nunca mais servir e sereis livres. Não vos peço que o empurrem e achincalhem, apenas que não o apoiem e vereis um grande colosso com pés de barro cair sobre o próprio peso e partir-se.
Étienne de La Boétie, Se. XVI
Discours de la Servitude Volontaire
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