19 novembro 2008

Deferência


Em Portugal, quando o debate se estabelece entre duas pessoas de gerações diferentes, a troca de ideias, não raras vezes, resvala para uma mera discussão emotiva carregada de paternalismo ou maternalismo primário. Uma coisa assim deste género. Confesso que esta atitude me incomoda particularmente. Aliás, recordo-me que, em criança, a pior coisa que me podiam fazer era sentarem-me na mesa dos putos. Desde muito cedo, sempre preferi a companhia dos adultos. Provavelmente, terá a ver com os primórdios da minha infância no Canadá, onde o "empowerment" dos miúdos se procede numa fase mais prematura da vida das pessoas. Lá, as crianças tornam-se adolescentes mais cedo do que cá. Lá, os adolescentes tornam-se adultos mais cedo do que cá. É uma cultura diferente.

Portanto, de seguida, para exemplificar, vou transcrever uma breve passagem referente ao episódio que marcou o início da ascenção profissional de um dos melhores especuladores profissionais de hoje, Stanley Druckenmiller, que durante anos foi o número dois de Soros e que, mais tarde se estabeleceu por conta própria. O episódio teve lugar no Pittsburgh National Bank, o primeiro emprego de Druckenmiller.

"The director of investments was Speros Drelles, the person who hired me. He was brilliant, with a great aptitude for teaching, but he was also eccentric. When I was twenty five and had been in the department for only about a year, he summoned me into his office and announced that he was going to make me director of equity research. This was quite a bizarre move, since my boss was about fifty years old and had been with the bank for over twenty five years. Moreover, all the other analysts had MBA's and had been in the department longer than I had." The New Market Wizards, Conversations with America's Top Traders, Jack Schwager (1992)

Qual a probabilidade disto acontecer em Portugal? Na minha opinião, nenhuma. No nosso país, há deferência a mais. Não confundir com falta de respeito pelos mais velhos. Não, nada disso. Refiro-me, simplesmente, à tendência que por vezes existe na nossa cultura, em que o mais velho manda calar o mais novo só porque sim.

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