A aversão do catolicismo ao capitalismo - o qual é largamente uma criação protestante - data da origem deste, mas foi em 1864 que ela se consumou definitivamente. Nesse ano, o Papa Pio IX publicou a Encícilica Quanta Cura e, com a colaboração do então bispo de Perugia, Luigi Pechi, futuro Papa Leão XIII, enumerou em Apêndice uma lista de 80 proposições que eram consideradas erros capitais pela Igreja. O Apêndice ficou conhecido como Syllabus dos Erros e nele o Papa condenou de forma radical o racionalismo, o empiricismo, o pensamento livre, a democracia e o individualismo - numa palavra o liberalismo moderno. A octogésima proposição sintetizava o documento, condenando como erro capital a asserção de que "O Papa pode e deve reconciliar-se e harmonizar-se com o progresso, com o liberalismo e com a civilização moderna". Não surpreende, por isso, a aversão que os sucessores de Pio IX sempre dedicaram ao sistema económico do liberalismo - o capitalismo.
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Na Encíclica Rerum Novarum (1891) que marca o início da chamada Doutrina Social da Igreja o Papa Leão XIII rejeita quer o capitalismo quer o socialismo, argumentando que a Igreja era defensora de uma terceira via a qual, na prática, estava muito mais próxima do socialismo do que do capitalismo. Isto mesmo foi admitido mais tarde pelo Papa Pio XI na Encíclica Quadragesimo Anno (1931). Escreve o Papa: "Dir-se-ia que o socialismo (...) tende para as verdades que a tradição cristã solenemente sempre ensinou, e delas em certa maneira se aproxima. É inegável que as suas reivindicações concordam às vezes muitissimo com as reclamações dos católicos que trabalham na reforma social".
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O Papa João Paulo II começou o seu pontificado como um socialista convicto. Na Encíclica Laborem Exercens (1981), dedicada ao trabalho humano, a sua análise é eminentemente marxista e o Papa fica perto de defender a luta de classes. Anos mais tarde, na Encíclica A Solicitude Social da Igreja, dedicada ao tema do subdesenvolvimento, o Papa mantém a perspectiva marxista vendo o subdesenvolvimento como o resultado de relações de exploração capitalistas.
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A viragem, praticamente radical, no pensamento económico e social da Igreja ocorre com a queda do muro de Berlim e a Encíclica Centesimus Annus (1991). (Ver aqui, especialmente caps. IV e V; cortesia zdp)
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