01 outubro 2008

o couro e o cabelo


A presente crise financeira tem uma raiz principal e um tronco muito forte que nasceu dessa raiz. A raiz foi o abandono do sistema de Bertton Woods que, a partir de 1972, permitiu aos bancos centrais - a exemplo do banco central mundial, o Fed - criar notas a partir do nada. O tronco é o nível de reservas sobre os depósitos imposto por lei aos bancos comerciais, o qual é insignificante e nalguns casos zero.

O multiplicador do crédito é ensinado aos jovens no primeiro ano do seu curso de economia e é daqueles conceitos que entusiasma quem aprende, em parte porque é uma espécie de milagre da multiplicação dos pães. Ele relaciona a expansão do crédito pelo sistema bancário com o nível de reservas legais sobre os depósitos, e define-se como o inverso do coeficiente de reservas.

Assim, quando o coeficiente de reservas é 20% sobre os depósitos, o multiplicador do crédito é 5 (um a dividir por 0,20). Tal significa que, por cada euro em nota que os bancos mantiverem em reservas, podem criar crédito no valor de 5. Se o coeficiente de reservas fôr 2%, como nos países da zona Euro, o multiplcador do crédito é 50 (um a dividir por 0.02), e o sistema bancário encarregar-se-à de expandir o crédito em 50 por cada euro em nota que tiver em reservas de caixa. Finalmente, se o coeficiente de reservas fôr zero, o multiplicador do crédito é infinito (um a dividir por zero), e os resultados são imagináveis: os bancos podem conceder crédito ilimitadamente mesmo quando não tenham um euro em caixa.

Portanto, o primeiro correctivo que irá sair da presente crise financeira é o de aumentar severamente os coeficientes de reservas legais. Os bancos passarão a estar menos vulneráveis às corridas dos depositantes. O crédito será mais escasso. O preço do crédito - as taxas de juro - serão mais elevadas. Os devedores vão sofrer.

Se eu tivesse de dar um conselho genérico à população para os próximos anos seria o seguinte: se tem dívidas com taxa de juro variável, pague-as rapidamente. E, sobretudo, não se endivide nos próximos anos. Vai ficar sem o couro e o cabelo.


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