19 outubro 2008

a mentalidade da exclusão


Eu vivi sob o Estado Novo até aos 20 anos, o tempo suficiente para me recordar de como eram as relações entre as pessoas nos tempos da ditadura. Nas relações entre família, amigos, colegas de escola, trabalho ou universidade, ninguém excluía ninguém por razões políticas.

Pelo contrário, havia, nessa matéria, até um foco de união entre as pessoas numa certa oposição ao regime, ou pelo menos numa certa maledicência acerca dele. Uns eram mais activos e outros menos, mas seguindo a tradição portuguesa de dizer mal de tudo, na sociedade civil todos se uniam em dizer mal do regime e dos homens que o serviam - os quais, na esmagadora maioria, eram, na realidade, homens impolutos.

A grande fractura ocorreu com o 25 de Abril. Famílias inteiras zangaram-se por causa da política, amigos tornaram-se inimigos, nasceram ódios figadais entre pessoas que anteriormente se queriam bem e surgiu a mentalidade da tribo em torno dos partidos políticos. A emergência de pelo menos vinte partidos na altura, numa sociedade altamente despolitizada e ignorante na matéria, fornecia tribos para todos os gostos, cada uma reclamando a verdade absoluta, com exclusão de todas as outras. A mentalidade da exclusão passou a prevalecer em Portugal. Esta mentalidade miserável está hoje enraizada na cultura portuguesa e é uma consequência directa do regime democrático.

Sem comentários: