Se os países católicos, ao contrário dos protestantes, são incapazes de auto-reforma, como é que eles mudam e se ajustam às circunstâncias? Somente pela via de choques externos que frequentemente põem em causa a sua sobrevivência.
É somente quando têm de lutar pela sua própria sobrevivência que os povos católicos mudam, muito à imagem da Igreja Católica. Assim o Concílio de Trento só se realizou porque a Igreja tinha a sua existência ameaçada pelo protestantismo. O Concílio Vaticano I (e, até certo ponto, o Vaticano II) é mais uma reacção in extremis da Igreja Católica para assegurar a sua sobrevivência face às ideias que emergiram da Revolução Francesa. Não se pode então falar de reformas, mas de verdadeiras rupturas com o passado.
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Em Portugal, a monarquia absoluta não conseguiu reformar-se e conduziu à revolução de 1820. A monarquia liberal ou constitucional fez o mesmo e deu lugar à Revolução de 1910. A I República foi irreformável e conduziu à Revolução de 1926. O Estado Novo também não conseguiu adaptar-se aos tempos e deu lugar à Revolução de 1974. No final dos anos 80, princípios dos anos 90 houve reformas na sociedade portuguesa que não foram ditadas por uma revolução, mas que ainda assim foram impostas externamente em virtude da nossa adesão à União Europeia. À parte estas, as quais foram essencialmente económicas, parece claro que o regime democrático português não tem capacidade para se auto-reformar (vg., sistema político, educação, justiça, saúde, segurança social, administração pública, etc.).
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Estarão para breve essas reformas, na realidade alterações radicais na sociedade portuguesa. A crise financeira e económica vai levar o país a condições de sobrevivência e aí ele vai mudar - e de forma brusca e radical. A crise financeira vai ser a mãe de todas as reformas que o regime democrático não conseguiu fazer. Eu não prevejo nenhuma revolução. Mas prevejo um período de grande agitação social no país. Semelhante à Argentina, 2001-2002.
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