17 setembro 2008

"tás um comuna"

Na sequência de um artigo que escrevi hoje e será publicado amanhã no jornal "Meia Hora", também em http://www.mercadopuro.blogspot.com/, um dos meus queridos pré leitores disse-me: "tás um comuna"! A minha tese é simples: a actual crise financeira vai exigir mais regulação, porque o sistema não foi capaz de se auto regular.

No epicentro da crise estão dois tipos de títulos: as titularizações indexadas aos créditos hipotecários de alto risco e os títulos que representam a probabilidade de falência associada a cada entidade financeira (os Credit Default Swaps). Em comum entre ambos, o facto de transaccionarem essencialmente em mercados não cotados, não regulados, em que não existe uma câmara de compensações que permita transferir o risco de contraparte para uma entidade terceira - a própria bolsa. Por outras palavras, como as transacções em mercados não cotados só envolvem dois agentes de cada vez, os emitentes, se algum deles vai à falência, o caldo está entornado. Além disso, permite todo o tipo de aldrabice na forma como os títulos são avaliados e contabilizados.

Não tenhamos dúvidas: é nestes mercados que tem origem a inovação. Contudo, o problema surge quando a inovação passa a prática corrente, como foi o caso. Não entendo como é que este mercado de Credit Default Swaps (CDS), tendo atingido uma dimensão de 60 triliões (!?!?) de dólares, tenha permanecido à margem da regulação financeira. Do mesmo modo, que também não entendo como é que a AIG pôde cobrir o risco de 440 mil milhões de dólares em CDS sem nenhuma repreensão por parte das autoridades. Estivessem estes títulos cotados na bolsa, à vista de todos, e não teríamos tido estes problemas.

Portanto, a reforma que, inevitavelmente se seguirá depois de ultrapassado o presente vendaval, deverá ser no sentido de regular estes mercados pouco transparentes e susceptíveis a surpresas desagradáveis. Não é preciso muito. Basta exigir a cotação pública e em bolsa de todos os títulos que, tendo atingido uma certa dimensão, possam abalar o equilíbrio do sistema financeiro.

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