27 setembro 2008

dramática


A crise financeira nos EUA tem vindo a agravar-se numa escalada impressionante. Já vários bancos foram à falência este ano nos EUA. Eram pequenos bancos com um âmbito meramente local ou estadual. A falência do Washington Mutual na última quinta feira é um novo e derradeiro marco. A crise passou a devorar também os bancos comerciais. Como mencionei no meu post anterior, na próxima segunda-feira o Wachovia, o sexto maior banco comercial americano, poderá já não existir.

Até aqui a crise tinha devastado os bancos de investimento. Não é fácil em Portugal dar um exemplo de um banco de investimento porque eles não existem. O exemplo mais próximo que existiu em Portugal foi o BPI nos seus primeiros anos, antes de se ter tornado também um banco comercial. Ao contrário dos bancos comerciais, os bancos de investimento não aceitam depósitos e não concedem empréstimos. Não possuem redes de agências. As suas áreas de negócio típicas estão descritas aqui.

Em poucas semanas a banca de investimento desapareceu da cena financeira americana com o desaparecimento dos cinco maiores bancos, por ordem crescente de importância: Bear Stearns (comprado por um banco comercial, JP Morgan Chase), Lehman Brothers (falido), Merrill Lynch (comprado por um banco comercial, Bank of America), Morgan Stanley e Goldman Sachs (convertidos à pressa em bancos comerciais).

A crise devastou também os bancos que especializavam no crédito hipotecários e os dois principais, o Fannie Mae e o Freddie Mac, acabaram nacionalizados. Pelo caminho, a maior seguradora do mundo, a AIG, foi também nacionalizada para evitar a falência.

A falência do Washington Mutual (WaMu) representa o assalto da crise ao último reduto do sistema financeiro - a banca comercial generalista. Para ver como ela está susceptível basta ver como o WaMu foi à falência. Foi vítima de uma clássica corrida ao banco. Nos últimos dez dias os depositantes levantaram $17 biliões em depósitos. O valor global dos depósitos do WaMu era de $170 biliões. Tal significa que o banco não tinha em reservas de caixa sequer 10% dos depósitos. Na realidade, em condições normais, um banco comercial não tem em reservas de caixa mais de 3% dos depósitos, às vezes menos. Basta uma pequena corrida por parte dos depositantes para que o banco se veja incapaz de lhes restituir o dinheiro. Nesse dia está falido.

É de uma destas pequenas corridas que o Wachovia foi vítima ao findar a última semana. Como referi, o Wachovia é o sexto maior banco comercial americano (veja aqui em 2005 era quinto), significando que a crise vai agora atacar os big five (Citigroup, Bank of America, JP Morgan Chase, Wells Fargo, US Bank Corp.). Estes estão igualmente vulneráveis: somente uma pequena percentagem dos seus vultosos depósitos estão lá em reservas de caixa para fazer face aos levantamentos dos depositantes.
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A próxima semana pode ser dramática.

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