
A Escola e a Família são os dois meios fundamentais para a aquisição dessas noções elementares. A Família é, cada vez mais, residual e desatenta. Circunstâncias de força maior, tais como, os empregos, os divórcios, a velocidade a que se move o mundo de hoje, impedem-nos frequentemente de prestarmos a atenção devida aos nossos filhos. A Escola, com raras excepções, educa para a aprendizagem instrumental, mas não é formativa. Nas últimas décadas, foi moda esvaziar a Escola de qualquer outra função que não fosse a de ensinar conceitos operativos. Muito devido à laicização da Escola, esta deixou de ensinar valores. Estes seriam supostamente transmitidos pelos Pais, se assim o entendessem, e adquiridos pelas crianças ao longo das suas vidas, num exercício abstracto de liberdade interior total, sem qualquer influência formativa das suas consciências.
Só que, como já foi dito, a Família dos nossos dias está muito longe de preencher as lacunas deixadas pela Escola. Uma criança, dos 5 aos 10 anos de idade, dedica mais tempo aos computadores, aos DVDs e à televisão, do que possivelmente aos pais. Por outras palavras, talvez os pais não tenham o tempo que desejariam para os seus filhos. E é naqueles entretenimentos que as crianças adquirem noções morais. Desde logo, familiarizam-se, de forma impressionante, com a idéia do mal. O mal (“os maus”, como dizem) está por todo o lado. Está presente nos filmes, nos desenhos animados, nos jogos de computador. E onde está o conceito do bem? Ele é muito vago e impreciso, e sempre deduzido por contraposição ao conceito do mal, que é firme e claro, e corporizado em inúmeras figuras infantis. Na verdade, ele é pictoricamente sedutor e emocionalmente atractivo, pelo que capta com facilidade a atenção de qualquer criança, que sabe perfeitamente quem são os “maus”, que identifica o que o mal é sem dificuldade de maior, mas, quando inquirida sobre o que possa ser o bem, tem ideias vagas e confusas.
Esta reflexão leva-me a crer que a laicização da Escola e da nossa sociedade não preencheu o vácuo deixado pelo abandono da educação moral religiosa. Esta partia sempre de valores morais positivos e de conceitos claros do bem e do mal. Baseava-se numa tradição comunitária, social e civilizacional experimentada por gerações e conceptualmente muito bem estereotipada, a que as crianças deixaram de ter acesso fácil. A formação moral das crianças beneficiava com isso. E, ao invés do que por aí se propagandeou, a educação religiosa infantil inserida no contexto da formação civil está longe de formatar a consciência dos futuros adultos e de lhes reduzir o livre-arbítrio. Cheios de ateus e incréus estão as sociedades do passado, onde predominava a educação moral religiosa, para o demonstrar.
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