O silêncio sempre foi extraordinariamente valorizado na tradição e na cultura portuguesa. A máxima "quando abre a boca ou entra mosca, ou sai asneira", ou aquela outra "o calado é o melhor", ou ainda a que "é melhor calado do que cantar desafinado" representam a genuína e sincera admiração popular pelo silêncio. Em política, também sempre foi assim.
Na verdade, a mentalidade portuguesa identifica o político, o político de elevada qualidade, com o "estadista", o homem de estado que assume com gravitas e circunspecção os destinos insondáveis e misteriosos da pátria. O político que fala muito é um "tagarela" e um "demagogo", enquanto que quem fala pouco é sério e competente. No primeiro grupo distingue-se, à esquerda, Mário Soares, que só se redimiu aos olhos da pátria quando se sentou no cadeirão presidencial, onde, cumprindo a secular tradição monárquica tão do agrado popular, se deve ser displicente. António Guterres, por cognome, o "picareta falante" (VPV), passou à história como um desmiolado. O país ainda lhe não perdoou. À direita, o ícone maior da parlapatice política é, sem dúvida, Marcelo Rebelo de Sousa. Com Marcelo, que o país admira por aparecer semanalmente na televisão e parecer saber um pouco de tudo e de mais qualquer coisa ainda, os portugueses têm uma relação metapolítica: não se zangam com ele, mas não o levam a sério, por não acreditarem que ele possa alguma vez chegar efectivamente ao poder.
Mas é efectivamente na tradição do silêncio que se afirma historicamente a nossa política, sobretudo, a nossa política à direita. O mito fundador da tradição foi, no ciclo constitucional, o insigne Conselheiro Gama Torres, saído da pena privilegiada de Eça de Queirós. Homem de superior inteligência, sempre calado e circunspecto, portador de grandes idéias e vasta cultura, mas sempre avaro em partilhar os seus elevados pensamentos com o vulgo, o Conselheiro limitava-se a exclamar repetidamente: "Ele há questões terríveis! Questões terríveis! O pauperismo e a prostituição!". O Doutor Salazar distinguiu-se pelo seu metódico distanciamento da populaça, o mesmo podendo dizer-se de Aníbal Cavaco Silva, que não lia jornais, nem debatia com os líderes da oposição. Estes homens são, ou foram, segundo a vox populi da direita indígena, verdadeiros "estadistas". Já Marcelo Caetano, Pedro Santana Lopes ou Luís Filipe Meneses falavam demais. O seu destino é conhecido.
Na verdade, a mentalidade portuguesa identifica o político, o político de elevada qualidade, com o "estadista", o homem de estado que assume com gravitas e circunspecção os destinos insondáveis e misteriosos da pátria. O político que fala muito é um "tagarela" e um "demagogo", enquanto que quem fala pouco é sério e competente. No primeiro grupo distingue-se, à esquerda, Mário Soares, que só se redimiu aos olhos da pátria quando se sentou no cadeirão presidencial, onde, cumprindo a secular tradição monárquica tão do agrado popular, se deve ser displicente. António Guterres, por cognome, o "picareta falante" (VPV), passou à história como um desmiolado. O país ainda lhe não perdoou. À direita, o ícone maior da parlapatice política é, sem dúvida, Marcelo Rebelo de Sousa. Com Marcelo, que o país admira por aparecer semanalmente na televisão e parecer saber um pouco de tudo e de mais qualquer coisa ainda, os portugueses têm uma relação metapolítica: não se zangam com ele, mas não o levam a sério, por não acreditarem que ele possa alguma vez chegar efectivamente ao poder.
Mas é efectivamente na tradição do silêncio que se afirma historicamente a nossa política, sobretudo, a nossa política à direita. O mito fundador da tradição foi, no ciclo constitucional, o insigne Conselheiro Gama Torres, saído da pena privilegiada de Eça de Queirós. Homem de superior inteligência, sempre calado e circunspecto, portador de grandes idéias e vasta cultura, mas sempre avaro em partilhar os seus elevados pensamentos com o vulgo, o Conselheiro limitava-se a exclamar repetidamente: "Ele há questões terríveis! Questões terríveis! O pauperismo e a prostituição!". O Doutor Salazar distinguiu-se pelo seu metódico distanciamento da populaça, o mesmo podendo dizer-se de Aníbal Cavaco Silva, que não lia jornais, nem debatia com os líderes da oposição. Estes homens são, ou foram, segundo a vox populi da direita indígena, verdadeiros "estadistas". Já Marcelo Caetano, Pedro Santana Lopes ou Luís Filipe Meneses falavam demais. O seu destino é conhecido.
Sem comentários:
Enviar um comentário