Algures pela caixa de comentários deste post, Miguel Madeira classifica o «liberalismo» como uma forma de «centrismo», ficando, na geometria ideológica que propôs, a «esquerda pura» entregue a Pannekoek e a «direita pura» remetida a De Maistre. O critério dividiria os «cidadãos de um país» e serviria assim para os distinguir ideológica e politicamente. Não querendo discutir com o Miguel o que poderá ser a «pureza» de uma posição política, o que certamente nos levaria longe e a lado nenhum, eu não posso deixar de dizer que o que o Miguel afirma não é inteiramente acertado.
Em primeiro lugar, porque não vejo a direita, mesmo aquela a que imagino que o Miguel chama de «pura», a rever-se preferencialmente em De Maistre. Até essa mesma tem sérias dúvidas sobre, por exemplo, a fase maçónica do autor das Considérations sur la France, o que frequentemente incomoda os defensores do «trono e do altar», com quem o Miguel parece identificar a direita em estado de refinada pureza. A direita, mesmo a que se reclama conservadora (o que não sucedia, como o Miguel bem sabe, por exemplo, com Hayek), tem outras referências, por exemplo, Burke, muito apropriadamente referido, ou Oakeshott, se quisermos ficar mais próximos do nosso tempo. A direita que se pretende liberal segue também outros critérios, outros princípios e outros autores autores. O Miguel far-me-á a gentileza de não me obrigar a editar aqui uma lista exaustiva.
Em segundo lugar, porque também não creio que a História do Socialismo do século XX, quando o socialismo foi, de facto, politicamente influente, se tenha inspirado no marxismo cienticista e naturalista de Pannekoek. A esquerda dita «pura» terá sido muito mais influenciada por Lenine (que, aliás, dedicou a Pannekoek páginas “amáveis” em O Esquerdismo, A Doença Infantil do Comunismo), e a que foi avançando para o centro inspirou-se nos «revisionistas» e reformistas social-democratas.
Em terceiro lugar, porque, insisto, não admito o «centrismo» como posição política, doutrinal ou ideológica, sequer partidária. Do centrismo em Portugal, por exemplo, recordo-me do malfadado CDS do Prof. Freitas do Amaral, dos tempos medonhos do PREC. Aquilo não correspondia a nada nem a coisa nenhuma: sociologicamente o povo do CDS era mais do que de direita (a grande maioria provinda do antigo regime); ideologicamente o que o partido defendia era uma direita moderada, europeia, defensora de uma economia mista, como era moda ao tempo. Em suma, uma direita necessariamente envergonhada em razão do clima revolucionário em que então se vivia. Mal a coisa abrandou, o CDS assumiu-se claramente de direita, como sempre fora de facto. E, como na velha analogia de Trotsky sobre o dito centrismo, tal e qual como a galinha que choca ovos de pato à beira do rio e se espanta com a deserção dos recém-nascidos, também o Prof. Freitas ficou atarantado sem perceber o que se passara ao «seu» CDS. Acabou a ministro de um governo socialista, como é sabido. Sobre o «centrismo político», lamento pois desfeitar o Miguel Madeira, mas insisto que não conheço um único autor respeitável ou um conjunto de ideias audíveis. Mas admito sugestões.
Em primeiro lugar, porque não vejo a direita, mesmo aquela a que imagino que o Miguel chama de «pura», a rever-se preferencialmente em De Maistre. Até essa mesma tem sérias dúvidas sobre, por exemplo, a fase maçónica do autor das Considérations sur la France, o que frequentemente incomoda os defensores do «trono e do altar», com quem o Miguel parece identificar a direita em estado de refinada pureza. A direita, mesmo a que se reclama conservadora (o que não sucedia, como o Miguel bem sabe, por exemplo, com Hayek), tem outras referências, por exemplo, Burke, muito apropriadamente referido, ou Oakeshott, se quisermos ficar mais próximos do nosso tempo. A direita que se pretende liberal segue também outros critérios, outros princípios e outros autores autores. O Miguel far-me-á a gentileza de não me obrigar a editar aqui uma lista exaustiva.
Em segundo lugar, porque também não creio que a História do Socialismo do século XX, quando o socialismo foi, de facto, politicamente influente, se tenha inspirado no marxismo cienticista e naturalista de Pannekoek. A esquerda dita «pura» terá sido muito mais influenciada por Lenine (que, aliás, dedicou a Pannekoek páginas “amáveis” em O Esquerdismo, A Doença Infantil do Comunismo), e a que foi avançando para o centro inspirou-se nos «revisionistas» e reformistas social-democratas.
Em terceiro lugar, porque, insisto, não admito o «centrismo» como posição política, doutrinal ou ideológica, sequer partidária. Do centrismo em Portugal, por exemplo, recordo-me do malfadado CDS do Prof. Freitas do Amaral, dos tempos medonhos do PREC. Aquilo não correspondia a nada nem a coisa nenhuma: sociologicamente o povo do CDS era mais do que de direita (a grande maioria provinda do antigo regime); ideologicamente o que o partido defendia era uma direita moderada, europeia, defensora de uma economia mista, como era moda ao tempo. Em suma, uma direita necessariamente envergonhada em razão do clima revolucionário em que então se vivia. Mal a coisa abrandou, o CDS assumiu-se claramente de direita, como sempre fora de facto. E, como na velha analogia de Trotsky sobre o dito centrismo, tal e qual como a galinha que choca ovos de pato à beira do rio e se espanta com a deserção dos recém-nascidos, também o Prof. Freitas ficou atarantado sem perceber o que se passara ao «seu» CDS. Acabou a ministro de um governo socialista, como é sabido. Sobre o «centrismo político», lamento pois desfeitar o Miguel Madeira, mas insisto que não conheço um único autor respeitável ou um conjunto de ideias audíveis. Mas admito sugestões.
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