Imaginemos uma economia baseada na produção de batata. O dinheiro seria inexistente e todos os serviços seriam pagos com batatas, até os impostos. Os agricultores entregariam ao Estado uma percentagem das suas colheitas e ficariam com o resto para alimentação e para semear no ano seguinte.
Quanto seria legítimo o fisco cobrar aos agricultores, em percentagem da produção? Todos concordariam em pagar um pequeno tributo, tipo condomínio, para o colectivo, digamos aí uns 10% das colheitas. Contudo, é evidente que repugnaria a qualquer cidadão que o Estado sacasse 80% das colheitas, deixando os agricultores sem sementes para cultivar e até dependentes do Estado para alimentarem, vestirem, educarem e tratarem da saúde das famílias.
No País da batata a extorsão fiscal seria impossível, porque a populaça compreenderia logo, por exemplo, que a falta de batata no mercado se teria ficado a dever à acção do Estado. Sem batatas para sementes, os agricultores teriam de diminuir a produção e surgiria escassez. Desemprego, inflação e défice tornar-se-iam compreensíveis para todos.
No País real passa-se tudo isto, mas como existe dinheiro e o nosso cérebro tem dificuldade em compreender uma economia baseada na moeda, os indicadores económicos tornam-se confusos.
Os produtores têm de pagar a segurança social, o IRC, o IVA e ainda uma miríade de taxas e coimas, o ISP, o IA e o IRS a taxas que chegam aos 42%, o que sobra? Menos de 20% dos lucros.
Com este esforço fiscal não é possível investir e criar empregos, não é possível eliminar o défice orçamental (com este nível de despesas), nem o défice comercial, nem ter qualquer crescimento económico de jeito. Mas para a populaça, estas noções são incompreensíveis. Incompreensíveis pelo menos até que lhes faltem as batatas na mesa. E eu desconfio que, até nesse caso, atribuiriam a culpa aos agricultores.
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