28 abril 2008

tradição

O Pedro Arroja anda visivelmente fascinado pela personagem histórica e política do Doutor Salazar. De certo modo, ele tem razão. Salazar representa o paradigma português do líder da direita, pelo menos, do tipo de líder que a direita portuguesa aprecia: austero, grave, autoritário, trabalhador, culto, avesso à multidão (à «democracia», segundo a versão mais antiga, ao «populismo», segundo a mais moderna), com origens humildes ou, pelo menos, não enfatizadas, e, acima de tudo, profundo conhecedor dessa ciência esotérica que são as finanças do Estado, capaz de dominar a sua forma mais diabólica, o famigerado «défice».

Por essa razão, Salazar aguentou-se quarenta anos no poder e, todos estes anos volvidos de maledicência e contestação, conseguiu fazer-se eleger como o mais notável dos portugueses. De certo modo, também Cavaco, o chefe que a direita mais estimou em democracia (e depois de Salazar), não andava longe deste paradigma, salvaguardando obviamente o facto de ser um homem de formação democrática. E é também por partilhar de algumas destas características, que José Sócrates não deixa de agradar a alguma direita, tendo ocupado parte do «espaço do PSD», como agora se usa dizer.

A mais do que inevitável ascensão de Manuela Ferreira Leite à liderança do PSD vai no mesmo sentido. Ao fim de alguns anos de deriva «populista», o PSD, isto é, a direita do regime, regressa às suas tradições.

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