Independentemente das convicções íntimas de cada um, considero a «questão religiosa» com a Igreja Católica, a mais nociva de todas as que dividem a direita liberal e conservadora em Portugal.
Tenho aqui escrito reiteradamente as duas seguintes coisas: primeira, que se o assunto for tratado ao nível da consciência e do foro íntimo de cada um, então, ninguém tem nada a ver com as escolhas feitas, nem deve sequer pronunciar-se sobre elas; e, segunda, que se o assunto for visto do ponto de vista institucional, nomeadamente da instituição Igreja Católica e dessa particular instituição nas suas relações com outras instituições, desde logo as de cariz político e público, então, os liberais, em obediência aos seus princípios fundamentais de reconhecimento das instituições naturais da sociedade civil e a carga de tradição (que os liberais respeitam como selecção natural de procedimentos espontaneamente seleccionados pelos indivíduos) que a Igreja Católica tem e de que é depositária na sociedade portuguesa, não podem senão privilegiar a posição da Igreja Católica, e defender que os poderes públicos a devem tratar em consonância com o seu peso específico na sociedade portuguesa. Isto, repito, independentemente das convicções íntimas e confessionais, agnósticas ou ateias que cada qual tenha.
No início da III República, ao contrário do que sucedeu durante quase toda a I e contra o que até seria espectável, o poder político – mesmo o revolucionário, nunca desconsiderou ou diminuiu o estatuto social e político da Igreja Católica. Quando Mário Soares, que era, então, ateu, assumiu o controlo político da situação, ele privilegiou as relações do Estado com a Igreja Católica. Contra a opinião de muitos dirigentes do seu partido e de outras forças muito influentes na política de então. O facto é que o próprio Mário Soares confessou em entrevista recente que essa tinha sido uma opção consciente, porque, em sua opinião, o que falhara na I República fora exactamente o relacionamento do Estado e dos governantes com a Igreja Católica. Mário Soares não queria repetir o mesmo erro, não queria que o regime repetisse as asneiras do passado, e evitou que isso acontecesse. Com vantagem para a III República, reconheça-se.
Ora, se até os socialistas portugueses já perceberam isto, pelo menos desde 1976, estranho que parte substancial dos liberais contemporâneos o não tenha ainda compreendido. É por estas e por outras que, na minha modesta e singela opinião, o liberalismo português e a direita que o reclamam não passa da cepa torta.
Tenho aqui escrito reiteradamente as duas seguintes coisas: primeira, que se o assunto for tratado ao nível da consciência e do foro íntimo de cada um, então, ninguém tem nada a ver com as escolhas feitas, nem deve sequer pronunciar-se sobre elas; e, segunda, que se o assunto for visto do ponto de vista institucional, nomeadamente da instituição Igreja Católica e dessa particular instituição nas suas relações com outras instituições, desde logo as de cariz político e público, então, os liberais, em obediência aos seus princípios fundamentais de reconhecimento das instituições naturais da sociedade civil e a carga de tradição (que os liberais respeitam como selecção natural de procedimentos espontaneamente seleccionados pelos indivíduos) que a Igreja Católica tem e de que é depositária na sociedade portuguesa, não podem senão privilegiar a posição da Igreja Católica, e defender que os poderes públicos a devem tratar em consonância com o seu peso específico na sociedade portuguesa. Isto, repito, independentemente das convicções íntimas e confessionais, agnósticas ou ateias que cada qual tenha.
No início da III República, ao contrário do que sucedeu durante quase toda a I e contra o que até seria espectável, o poder político – mesmo o revolucionário, nunca desconsiderou ou diminuiu o estatuto social e político da Igreja Católica. Quando Mário Soares, que era, então, ateu, assumiu o controlo político da situação, ele privilegiou as relações do Estado com a Igreja Católica. Contra a opinião de muitos dirigentes do seu partido e de outras forças muito influentes na política de então. O facto é que o próprio Mário Soares confessou em entrevista recente que essa tinha sido uma opção consciente, porque, em sua opinião, o que falhara na I República fora exactamente o relacionamento do Estado e dos governantes com a Igreja Católica. Mário Soares não queria repetir o mesmo erro, não queria que o regime repetisse as asneiras do passado, e evitou que isso acontecesse. Com vantagem para a III República, reconheça-se.
Ora, se até os socialistas portugueses já perceberam isto, pelo menos desde 1976, estranho que parte substancial dos liberais contemporâneos o não tenha ainda compreendido. É por estas e por outras que, na minha modesta e singela opinião, o liberalismo português e a direita que o reclamam não passa da cepa torta.
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