15 abril 2008

o estado da direita

Num post aqui em baixo editado, o Pedro Arroja referiu que eu me tenho andado a preocupar com os fundamentos do que deveria ser um «genuíno partido de direita» em Portugal. Devo dizer que, embora o que o Pedro diz não seja absolutamente exacto, ele não foge exageradamente à verdade. De facto, preocupam-me o estado em que se encontram os partidos da direita parlamentar portuguesa, como também gosto de dissertar sobre o que me parecem ser os princípios fundamentais do liberalismo político. Diga-se, todavia, que tenho grandes dúvidas que alguma vez os segundos se possam vir a casar com os primeiros em Portugal, pelo que o meu interesse nestas coisas é absolutamente teórico e especulativo.

Mas já que o Pedro lançou o «desafio», aproveito para acrescentar mais alguns pontos.

O primeiro é uma simples constatação de facto. Os partidos da direita parlamentar, o PSD e o CDS, encontram-se no seu mais baixo momento político de sempre. Sem credibilidade pública, sem protagonistas convincentes, sem ideias, sem projectos, sem protagonistas alternativos aos que estão em funções, em suma, sem futuro à vista. Os dois partidos descredibilizaram-se na última passagem pelo poder, quando o líder da coligação fez exactamente o que fizera o seu antecessor – abdicar intempestivamente, facto que desagradara ao eleitorado e o conduzira ao poder. Depois, foi a hecatombe do governo de Santana Lopes, a que se seguiu uma campanha eleitoral agreste, fulanizada, desagradável e que levou o partido ao descalabro eleitoral. No CDS o cenário não foi melhor, com a saída e entrada de Paulo Portas em condições públicas nunca vistas e pateticamente lamentáveis, que marcarão para sempre a sua vida política. Portas regressou antes do tempo, sem chama, sem projecto, sem gente, e para um partido, já de si minúsculo, agora fraccionado pela sua inabilidade. Portas e este CDS não têm nada para dizer ao país, que lhe não tivessem dito já no passado, em muito melhores condições e sem sucesso por aí além.

A segunda constatação é igualmente factual. Os dois partidos estão nas mãos de aparelhos burocráticos medíocres, cuja única preocupação consiste em manterem e, se possível aumentarem, as suas posições e influência nos próximos actos eleitorais. Nas autarquias, no parlamento e nos cargos públicos que estas posições facilitam. Isto significa que, ao invés do que lhes seria conveniente e necessário, os dois partidos se estão a fechar – cada vez mais hermeticamente, diga-se, em vez de se abrirem. Ao contrário do que tem feito o Partido Socialista, que tem vindo a abrir-se à esquerda e à direita (veja-se, nomeadamente, o caso de José Miguel Júdice, muito mais significativo do que se possa pensar).

A terceira constatação é ideológica. Os dois partidos não estão interessados em pensar, nomeadamente, em pensar num modelo de Estado diferente do que o Partido Socialista tem vindo a impor ao país, desde 1977: o Estado Social. Em relação a isto, o melhor que a direita soube fazer quando esteve no governo (excluindo a efémera passagem de Francisco Sá Carneiro) foi gerir o Estado Social do PS, tentando resolver os seus problemas congénitos e de crescimento. Nunca lhe ouvimos, contudo, qualquer modelo alternativo para organizar politica e economicamente o país. E não parece que estejam empenhados em fazê-lo. Limitam-se a contrapor alternativas às políticas socialistas dentro do mesmo modelo de organização do Estado, e a tentar demonstrar que serão mais eficazes na governação do modelo vigente, o que, de todo em todo, não é possível, como o eleitorado já há muito compreendeu.

A quarta constatação é a de que, ao contrário do que fora prometido pelos vários responsáveis depois da última eleição legislativa, não houve qualquer preocupação em «refundar» a direita e os seus partidos. Em quase quatro anos passados, seja no PSD, seja no CDS, discutiram-se somente questões pessoais e de pequenos poderes e influências. Os partidos da direita portuguesa estiveram, assim, de costas voltadas para o país e para os portugueses. Estes, conforme indiciam as sondagens, vão provavelmente fazer-lhes o mesmo nos próximos actos eleitorais.

A quinta e última constatação é que, muito provavelmente, este modelo de organização da direita portuguesa se encontra esgotado. E que se nem num ciclo de grande dificuldade os partidos e os seus dirigentes perceberam o que tinham de fazer, não será certamente com mais uma derrota eleitoral em cima, e mais quatro anos de jejum, que o perceberão. O que daqui resultará num futuro muito próximo, francamente não sei. Mas começo a não ter muitas dúvidas que este modelo, que foi, aliás, imposto pelas circunstâncias históricas da revolução de Abril e não foi nunca muito famoso, irá acabar por desaparecer. Se calhar, era o que já devia ter sucedido há muito.

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