A discussão em redor do dólar está longe de estar terminada. Na minha opinião, os danos causados pelo subprime norte-americano, e posterior intervenção monetária do FED, são irreversíveis. A credibilidade do dólar foi ferida de morte. E esta tem sido a base de todo o sistema financeiro mundial nos últimos 37 anos – desde 1971 quando o então presidente Richard Nixon aboliu o sistema de Bretton Woods, que defendia a convertibilidade do dólar em ouro. Estou convencido de que caminhamos para um novo paradigma. Está visto que o sistema actual, baseado em mera confiança na bondade do dólar, está esgotado. A frase do famoso liberal Lord Acton de que “o poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente” também se aplica aos mercados financeiros e está na origem da momento actual. Não é possível manter um sistema cambial ancorado no dólar quando este é influenciado por um governo que não olha a despesas na ânsia de financiar défices. E também não é possível acreditar no dólar num momento em que FED se tornou numa mera máquina impressora de papel.
Na conjuntura presente, a análise do passado é um exercício crucial. O novo paradigma não tem necessariamente a ver com o regresso ao padrão ouro. Na verdade, se hoje se regressasse à relação entre divisas e activos tangíveis, o barril de petróleo seria provavelmente o elemento de ligação escolhido. A questão centra-se acima de tudo no comportamento dos bancos centrais e governos para combater aquilo que se afigura como inevitável: o descrédito institucional e a inflação nos Estados Unidos. Quando Nixon aboliu o sistema de Bretton Woods em 1971, pôs a nu a mentira que muitos temiam: a América não tinha reservas suficientes para acomodar a produção monetária que ostentava. Durante a década de 60, a confiança nas instituições norte-americanas valeu aos Estados Unidos um crescimento anual médio de 4,4% e uma taxa de inflação média de 2,2%. Depois do fim de Bretton Woods, na década de 70, o dólar desvalorizou e a economia norte-americana entrou em recessão porque, embora o crescimento anual médio do PIB tenha sido de 3,3%, a inflação média foi de 7,1%. A acrescentar ao problema monetário, seguiu-se também a crise petrolífera de 73 e a alta generalizada dos preços das restantes matérias primas.
A situação que temos hoje é parecida com a dos tempos de Nixon. Esta Casa Branca e o FED há muito que ligaram a máquina impressora. E não há reservas nem confiança que permitam suportar a quantidade de notas que inundaram o sistema financeiro norte-americano. Nos Estados Unidos, as taxas de juro ajustadas pela inflação são hoje negativas. Quanto à criação de massa monetária, a abolição do seu principal indicador, o M3, abriu caminho à omissão e à mentira descarada. E nas matérias primas, por força de novas potências mundiais com agendas e estratégias próprias, os preços não param de subir. No passado, a situação resolveu-se devolvendo às instituições norte-americanas a sua credibilidade. Desta vez, não acredito que aconteça o mesmo. O mundo procurará a credibilidade e a liderança noutro lugar. Na Europa, por exemplo, se os Sarkozy’s se mantiverem bem longe do Banco Central Europeu.
(*) artigo publicado no semanário “Vida Económica” a 28 de Março 2008 (versão editada)
Na conjuntura presente, a análise do passado é um exercício crucial. O novo paradigma não tem necessariamente a ver com o regresso ao padrão ouro. Na verdade, se hoje se regressasse à relação entre divisas e activos tangíveis, o barril de petróleo seria provavelmente o elemento de ligação escolhido. A questão centra-se acima de tudo no comportamento dos bancos centrais e governos para combater aquilo que se afigura como inevitável: o descrédito institucional e a inflação nos Estados Unidos. Quando Nixon aboliu o sistema de Bretton Woods em 1971, pôs a nu a mentira que muitos temiam: a América não tinha reservas suficientes para acomodar a produção monetária que ostentava. Durante a década de 60, a confiança nas instituições norte-americanas valeu aos Estados Unidos um crescimento anual médio de 4,4% e uma taxa de inflação média de 2,2%. Depois do fim de Bretton Woods, na década de 70, o dólar desvalorizou e a economia norte-americana entrou em recessão porque, embora o crescimento anual médio do PIB tenha sido de 3,3%, a inflação média foi de 7,1%. A acrescentar ao problema monetário, seguiu-se também a crise petrolífera de 73 e a alta generalizada dos preços das restantes matérias primas.
A situação que temos hoje é parecida com a dos tempos de Nixon. Esta Casa Branca e o FED há muito que ligaram a máquina impressora. E não há reservas nem confiança que permitam suportar a quantidade de notas que inundaram o sistema financeiro norte-americano. Nos Estados Unidos, as taxas de juro ajustadas pela inflação são hoje negativas. Quanto à criação de massa monetária, a abolição do seu principal indicador, o M3, abriu caminho à omissão e à mentira descarada. E nas matérias primas, por força de novas potências mundiais com agendas e estratégias próprias, os preços não param de subir. No passado, a situação resolveu-se devolvendo às instituições norte-americanas a sua credibilidade. Desta vez, não acredito que aconteça o mesmo. O mundo procurará a credibilidade e a liderança noutro lugar. Na Europa, por exemplo, se os Sarkozy’s se mantiverem bem longe do Banco Central Europeu.
(*) artigo publicado no semanário “Vida Económica” a 28 de Março 2008 (versão editada)
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