Não existe nada de particularmente novo na crise económica que estamos a atravessar. Nem são especialmente exigentes ou misteriosas nem pertencem ao mundo dos deuses as medidas a tomar em situações semelhantes. Mais do que descobrir a pólvora, trata-se de ter coragem política, traçar um rumo e aplicá-lo, mau grado as reacções corporativas e dos interesses instalados. Mau grado as primeiras consequências visíveis dessas mesmas medidas.
A Senhora Thatcher, a quem abusivamente chamámos Margarida (espero que ninguém se ofenda), foi, talvez, a primeira governante contemporânea a fazer o exacto diagnóstico da crise económica em que se encontrava um país terrivelmente socializado e estatizado, o seu, e a aplicar-lhe uma terapia de choque, única forma de conseguir "dar a volta" por cima.
Também a Inglaterra dos anos 70 se endividara muito para além do possível, experimentara toda a sorte de estímulos keynesianos para relançar a economia, apostara num sector público imenso, tinha legislação laboral e empresarial terrivelmente proteccionista (ditada, de resto, pelos poderosíssimos sindicatos). Também o governo socialista saíra de cena sem soluções e com o país submergido numa gravíssima crise económica, com elevadas taxas de desemprego e de inflação.
As primeiras medidas que o governo conservador de Margareth Thatcher aplicou, não foram muito distintas das que aqui foram seguidas pelo Ministério de Ferreira Leite, a quem, abusivamente também, chamámos Manuela: controle da despesa pública, medidas para diminuir o consumo e o endividamento das famílias, e rigor orçamental. Também cá, como na Inglaterra dos anos 80, o desemprego aumentou, graças às empresas que faliram, e a inflação cresceu, o poder de compra diminuiu e os índices económicos imediatos revelaram-se assustadores.
Contudo, o governo da Srª Thatcher venceu a crise, deu a volta por cima, criou riqueza e relançou a Inglaterra como potência económica regional. O governo da Senhora Ferreira Leite está condenado ao insucesso. Pelo menos pelo que, por enquanto, aparenta. Onde está, então, a diferença?
É que nenhum governo liberal, ou liberalizador, pode exigir sacrifícios aos cidadãos, sem se sacrificar a si mesmo e sacrificar o que é ilusoriamente seu. Isto é: não é concebível que seja o sector privado a pagar a crise, ficando o sector público - que a originou e a manterá – rigorosamente na mesma.
Todos os sacrifícios passados pelos portugueses teriam sentido se com eles se custeasse a reforma estrutural do Estado: diminuindo drasticamente os efectivos da Administração Pública - pagando-lhes reformas antecipadas - e não os substituindo por outros, encerrando todos os sorvedouros de receitas, como ainda são a RTP e a TAP, reduzindo consideravelmente a dimensão intervencionista do governo na vida dos cidadãos, baixando, de facto, a carga fiscal sobre as empresas e a classe média, ou seja, sobre quem gera riqueza e emprego.
Ao contrário de Margarida que o fez, o governo de Manuela exige sacrifícios aos seus cidadãos, e continua a sustentar uma máquina despesista que não se vê diminuir: a RTP, que seria privatizada ou se extinguiria, mantêm-se na mesma, a TAP, lá está, o Governo, por cada assessor demitido contrata, pelo menos, dois, e a Administração Pública, ex-libris reformista de Barroso, vai manter-se intacta, a acreditar nas palavras de Deus Pinheiro. Para que servem, então, os sacrifícios impostos?
Acresce, a tudo isto, que Portugal é um país pequeno, pobre, que não se preparou para o mercado único europeu e que não tem praticamente capacidade produtiva. Oferecemos serviços invariavelmente maus ou, pelo menos, piores e mais caros do que muitos países europeus e comunitários. Somos, os dez milhões de almas que aqui habitamos, um mercado de consumidores que quase nada produz.
Por tudo isto, a Drª Manuela Ferreira Leite irá fracassar: só fez o "trabalho" pela metade. Ainda por cima, a parte pior e a mais impopular e desagradável. Enquanto que, em Inglaterra, a Srª Thatcher é hoje recordada com saudade, ao ponto do actual primeiro-ministro socialista imitar o seu estilo e a invocar insistentemente.
* Publcado no Catalaxia, em 26 de Novembro de 2003.
A Senhora Thatcher, a quem abusivamente chamámos Margarida (espero que ninguém se ofenda), foi, talvez, a primeira governante contemporânea a fazer o exacto diagnóstico da crise económica em que se encontrava um país terrivelmente socializado e estatizado, o seu, e a aplicar-lhe uma terapia de choque, única forma de conseguir "dar a volta" por cima.
Também a Inglaterra dos anos 70 se endividara muito para além do possível, experimentara toda a sorte de estímulos keynesianos para relançar a economia, apostara num sector público imenso, tinha legislação laboral e empresarial terrivelmente proteccionista (ditada, de resto, pelos poderosíssimos sindicatos). Também o governo socialista saíra de cena sem soluções e com o país submergido numa gravíssima crise económica, com elevadas taxas de desemprego e de inflação.
As primeiras medidas que o governo conservador de Margareth Thatcher aplicou, não foram muito distintas das que aqui foram seguidas pelo Ministério de Ferreira Leite, a quem, abusivamente também, chamámos Manuela: controle da despesa pública, medidas para diminuir o consumo e o endividamento das famílias, e rigor orçamental. Também cá, como na Inglaterra dos anos 80, o desemprego aumentou, graças às empresas que faliram, e a inflação cresceu, o poder de compra diminuiu e os índices económicos imediatos revelaram-se assustadores.
Contudo, o governo da Srª Thatcher venceu a crise, deu a volta por cima, criou riqueza e relançou a Inglaterra como potência económica regional. O governo da Senhora Ferreira Leite está condenado ao insucesso. Pelo menos pelo que, por enquanto, aparenta. Onde está, então, a diferença?
É que nenhum governo liberal, ou liberalizador, pode exigir sacrifícios aos cidadãos, sem se sacrificar a si mesmo e sacrificar o que é ilusoriamente seu. Isto é: não é concebível que seja o sector privado a pagar a crise, ficando o sector público - que a originou e a manterá – rigorosamente na mesma.
Todos os sacrifícios passados pelos portugueses teriam sentido se com eles se custeasse a reforma estrutural do Estado: diminuindo drasticamente os efectivos da Administração Pública - pagando-lhes reformas antecipadas - e não os substituindo por outros, encerrando todos os sorvedouros de receitas, como ainda são a RTP e a TAP, reduzindo consideravelmente a dimensão intervencionista do governo na vida dos cidadãos, baixando, de facto, a carga fiscal sobre as empresas e a classe média, ou seja, sobre quem gera riqueza e emprego.
Ao contrário de Margarida que o fez, o governo de Manuela exige sacrifícios aos seus cidadãos, e continua a sustentar uma máquina despesista que não se vê diminuir: a RTP, que seria privatizada ou se extinguiria, mantêm-se na mesma, a TAP, lá está, o Governo, por cada assessor demitido contrata, pelo menos, dois, e a Administração Pública, ex-libris reformista de Barroso, vai manter-se intacta, a acreditar nas palavras de Deus Pinheiro. Para que servem, então, os sacrifícios impostos?
Acresce, a tudo isto, que Portugal é um país pequeno, pobre, que não se preparou para o mercado único europeu e que não tem praticamente capacidade produtiva. Oferecemos serviços invariavelmente maus ou, pelo menos, piores e mais caros do que muitos países europeus e comunitários. Somos, os dez milhões de almas que aqui habitamos, um mercado de consumidores que quase nada produz.
Por tudo isto, a Drª Manuela Ferreira Leite irá fracassar: só fez o "trabalho" pela metade. Ainda por cima, a parte pior e a mais impopular e desagradável. Enquanto que, em Inglaterra, a Srª Thatcher é hoje recordada com saudade, ao ponto do actual primeiro-ministro socialista imitar o seu estilo e a invocar insistentemente.
* Publcado no Catalaxia, em 26 de Novembro de 2003.
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