14 março 2008

uma carta

Exmo. Senhor
Presidente da Direcção-Geral de Veterinária


Excelência,

Comovi-me ao escutar as palavras do Senhor Ministro da Agricultura, Dr. Jaime Silva, anunciando aos portugueses a decisão de capar os cães pertencentes ao que o Governo qualifica como «raças perigosas». Sábia decisão! Não se imagina melhor maneira de pôr termo ao terror que por aí infundem esses quadrúpedes selvagens. Ainda não há muito, passava eu pela porta de um vizinho em ameno passeio nocturno, quando, vindo das negras trevas, um desses energúmenos me atacou os fundilhos das calças. Felizmente, graças à intervenção pronta do dono, também ele saído das trevas, as consequências ficaram-se pelo tecido das ditas (que já consegui remendar) e por ligeiros sulcos nas carnes das nádegas (entretanto, já recompostas). Imagine agora V. Ex.ª que a coisa se tinha prolongado ou que a besta me atacava as partes frontais, ditas reprodutivas, e não propriamente as traseiras. As consequências e os prejuízos teriam sido incalculáveis!

Fica, assim, pela expedita intervenção de S. Ex.ª o Ministro, definido como princípio de resolução dos graves problemas da Pátria provocados pelos infames canídeos a extracção pura e simples das suas causas de origem. Que bela medida, Sr. Director-Geral. Quanta inteligência, quanto talento, quanto rasgo normativo. Porventura, há que alargá-la a outros domínios, generalizá-la, ampliar a sua dimensão e tornar, quiçá, geral o seu âmbito. Transformá-la de simples medida casuística em princípio geral, eis o que se impõe.

E eu começo já por lhe dar uma sugestão. Que se capem todos quantos têm sido prejudiciais à Pátria, começando pelos governantes que tantos males têm causado ao País. Como é sabido, não há, desde há décadas, quem deles se não queixe, e é bem certo que eles são a origem de muitos problemas que nos têm afligido. Gastam o que têm e o que não têm, multiplicam-se em asneiras e tonterias, desrespeitam os compromissos que eles mesmos assumiram, dão o dito por não dito com a maior desfaçatez e, é opinião unânime entre os portugueses, que são eles os culpados pelo «estado a que isto chegou». Raça perigosíssima, portanto, esta dos governantes. Dos ministros, dos secretários e sub-secretários de Estado, dos directores-gerais (que me perdoe V. Ex.ª), dos altos e baixos funcionários políticos. Aplique-se, pois, a eles o mesmo princípio que se aplicará aos canídeos, a fim de que também essa raça não prospere e não propague os muitos males de que já é responsável. E, já agora, faça-se o mesmo à oposição, não vá ela chegar um dia ao poder.

Cumprimenta-o respeitosamente,

A Bem da Nação,

Um Patriota Inflamado

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