"Pode, por isso, dizer-se que estamos aqui, como na tragédia grega, com uma máscara (aliás, não é verdade terem os homens inventado 'a máscara antes do rosto, o exterior antes do interior, o mundo antes do eu'? (53); e não é igualmente certo que, apesar de a máscara ser um artefacto dissimulatório, 'quanto mais [nos] disfarçar[mos], mais [... nos] parecer[emos connosco] próprios'?... (54) - ou então que, na nossa dimensão societariamente envolvida, somos sempre (se quisermos recorrer a exemplos extremos e esteticamente emblemáticos um mais ou menos amplo conjunto de pseudónimos ou dramatis personae (lembre-se Soren Kierkegard (55)), ou de heterónimos (pense-se em Fernando Pessoa) o que talvez nos roube a própria possibilidade de ter um rosto (56) (mas não serão estes expedientes portos de abrigo da ... geografia da identidade?!...) -, que, ao autonomizar o 'lugar social' concretamente em causa (57), nos permite hipocritamente - recorde-se a máxima de Epicuro: 'satis magnum alter alteri theatrum sumus'...) representar o papel que lhe corresponde: o de alunos e o de professor (58)".
(53) Cf. Eduardo Lourenço, Fernando rei da nossa Baviera, cit., 99.
(54) Cf. José Saramago, O homem duplicado, cit., 159 e 166.
(55) Cf., v. gr., G. Steiner, Paixão intacta, cit., 256.
(56) V. Eduardo Lourenço, Fernando rei da nossa Baviera, cit., 102.
(57) Cf. W. Maihoffer, Vom Sinn..., cit. 48.
(58) Claro que pode trilhar-se uma linha argumentativa inversa àquela que há pouco se seguiu; todavia, os resultados não difeririam. (...)
(F.J. Bronze, Lições de Introdução ao Direito, op. cit., p. 216)
Footnote (58) is particularly revealing. Regardless of the way you argue vai dar tudo ao mesmo, as the Portuguese people would say.
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