26 fevereiro 2008

Neocolonialismo


A capa de hoje do jornal “Público” traz uma manchete curiosa: “Sonangol diz que Galp tem de lhe obedecer”. Julgo que não se trata de uma expressão inocente. Pelo contrário, parece-me uma crítica mordaz e que, na minha opinião, veremos repetida no futuro. A manchete diz respeito à suposta batalha que está a ter lugar em Cabo Verde pelo controlo accionista da Enacol – a energética local. A Sonangol e a Galp têm, na Enacol, posições accionistas idênticas. Contudo, como a Sonangol também tem uma participação na Galp fica, indirectamente, com uma posição maioritária na Enacol. Segundo o “Público”, o presidente da Sonangol, Manuel Vicente, afirmou o seguinte: “Não há batalha nenhuma. Nós somos os patrões, vamos ditar as regras do jogo. Ponto final”. A linguagem foi dura. Diria, até, que foi rude. Mas Manuel Vicente fez bem as contas: a Sonangol detém, de facto, o domínio accionista da Enacol.

A realidade actual é muito simples. Se as empresas portuguesas querem ter alianças estratégicas com a Sonangol, têm de estar preparadas para abdicar da sua liderança. Porque, nos negócios, quem tem o dinheiro é que tem a palavra final. Nos Estados Unidos, há até o famoso adágio segundo o qual “Money talks, bullshit walks”. Portanto, não pensem os portugueses que, devido ao nosso passado colonial em África, os angolanos nos vão agora oferecer os seus petrodólares de bandeja, deixando-nos com rédea livre para “pensarmos” as parcerias. Esqueçam isso. Hoje, as regras do jogo, como Manuel Vicente afirma e bem, são outras. O colonialismo já lá vai e, por muito desdém que nos possa causar a cultura da “gasosa”, que infelizmente ainda reina na sociedade angolana, a verdade é que quem manda na Sonangol sabe muito bem de que lado sopra o vento. Os espertos estão agora do lado de lá.

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