19 fevereiro 2008

les jeux sont faits

No jogo do ultimato um ofertante faz uma oferta a um aceitante sobre a divisão de uma determinada quantia de dinheiro entre os dois. A proposta é um ultimato, se o aceitante concordar ficam os dois com o dinheiro que é divido da forma acordada, se o aceitante recusar perdem os dois.
Sob o ponto de vista racionalista, é lógico para o aceitante ficar com qualquer montante que lhe seja proposto, uma vez que só tem a ganhar. Contudo, não é isso que se passa na prática. Os proponentes começam logo por oferecer percentagens relativamente elevadas da quantia em questão, normalmente na casa dos 40%, e os aceitantes recusam ofertas que considerem baixas. Quando a oferta é de 40% a taxa de recusas é de 16%.
Os resultados deste jogo, que prima pela elegância da simplicidade, demonstram que as decisões económicas não dependem apenas da razão. Factores como o sentido da equidade entram em jogo e afectam as decisões. É a tal interdependência entre emoção e razão de que eu tenho vindo a falar em posts anteriores.
Acresce ainda, segundo demonstrou David Cesarini (MIT), que os genes influenciam de forma determinante os resultados do ultimato. No estudo que efectuou em gémeos suecos (Swedish Twin Registry), Cesarini conseguiu demonstrar que a estratégia dos aceitantes é condicionada, até 40%, pelos genes.
Outros estudos do ultimato têm revelado variações entre países e até entre regiões do mesmo país, mas tem sido difícil correlacionar estas variações com elementos de natureza cultural. Tanto quanto eu sei, até agora, só a biologia conseguiu explicar de forma credível estas discrepâncias.
Seria útil, portanto, que os intéis não continuassem a olhar para a sociobiologia como um bicho de sete cabeças.

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