Este ano, no final de Janeiro, teve lugar aquela que terá sido a maior fraude bancária de sempre. Aconteceu no Societe Generale, mas ainda ninguém percebeu muito bem como tudo aconteceu. Apenas se sabe que o banco francês – um dos maiores da Europa – perdeu cinco mil milhões de Euros e que responsabilizou um dos seus corretores, Jerome Kerviel, pelo sucedido. Já se passou um mês e, entretanto, sucederam-se duas coisas: Kerviel foi preso e o Societe Generale foi obrigado a realizar um aumento de capital, através da venda de acções próprias a um preço 40% inferior à cotação de mercado. O tema da fraude bancária, associada a más apostas nos mercados, é recorrente. Esta, contudo, apresenta algumas semelhanças com aquela sucedida na década de 90 no Barings Bank e que foi protagonizada pelo célebre Nick Leeson. Com uma diferença, ao contrário de Leeson, o francês Jerome Kerviel afirma-se vítima de uma conspiração.
Oficialmente, sabe-se que Jerome fazia parte do departamento Delta – responsável pela transacção da carteira própria do banco. Estes departamentos, também conhecidos como “Proprietary trading desks”, negoceiam diversos instrumentos, no mercado à vista e em derivados, com o intuito de ganhar dinheiro para o próprio banco – e não para clientes do banco. Estão entre os funcionários mais bem pagos de qualquer banco de investimento. A concorrência é feroz e os melhores têm remunerações globais que podem ascender ao milhão de Euros. Por isso, a rotação associada ao cargo é, também, elevada. Não conheço em detalhe o tempo que um “prop trader” – assim se designam estes corretores – consegue aguentar sem ser despedido. Mas julgo que, em média, se aguenta um ou dois anos na função. O tempo suficiente para acumular uma boa fortuna.
Em Portugal, apesar de uma ou outra excepção, não existe ainda a cultura dos “prop traders”. A nossa banca não se encontra devidamente especializada, como acontece no estrangeiro, através de uma clara destrinça entre banca de retalho e de investimento. Contudo, no estrangeiro, todos os grandes bancos de investimento têm divisões preenchidas com profissionais que seguem, exclusivamente, esse mandato. Em Londres, por exemplo, as remunerações base variam entre 50 e 100 mil libras por ano, a que acrescem mais 10% das mais valias anuais registadas na gestão da carteira que o próprio banco atribui ao corretor. Na verdade, é o bónus anual, definido em função da performance de cada um, que permite ao “prop trader” chegar a uma remuneração anual de um milhão de Euros. O controlo da supervisão cabe ao banco que define a grelha de risco à qual os corretores se têm de submeter. Essa grelha é definida de forma a que nenhum corretor, motivado pelo desejo de fortuna pessoal, possa comprometer a solvabilidade do banco e, assim, reeditar o caso Nick Leeson.
As medidas de protecção internas, que existem nos bancos de investimento, custam milhões de Euros por ano. Além disso, dentro dos bancos, não há porventura classe mais vigiada que a dos “prop traders”. Porque lidam com o dinheiro do banco. E porque são incentivados a assumir risco. Logo, parece-me inconcebível que o senhor Kerviel, sozinho, tenha conseguido enganar todo o aparato interno do banco. De resto, o desastre de Kerviel não foi motivado pela perda percentual na sua posição – apenas perdeu cerca de 10%. A sua tragédia foi a alavancagem associada à transacção. Segundo foi divulgado, o corretor perdeu 5 mil milhões de Euros em futuros sobre índices de acções europeias, mas na realidade o valor subjacente às transacções ascendia a mais de 50 mil milhões. Assim, em futuros do Eurostoxx, a sua posição corresponderia, às cotações de então, a 1,3 milhões de futuros – um número superior ao volume médio de transacções diárias. Aliás, o primeiro alerta veio da própria bolsa onde o instrumento está cotado – a Eurex – que, em Novembro, avisou a Societe Generale da sua gigantesca posição. Na altura, Kerviel terá, supostamente, encontrado uma desculpa conveniente e convenceu todos da sua bondade. Mais recentemente, já em prisão preventiva, Kerviel afirmou ao Financial Times que, embora assumisse a sua responsabilidade no sucedido, não estava disposto a ser o “bode expiatório”.
Oficialmente, sabe-se que Jerome fazia parte do departamento Delta – responsável pela transacção da carteira própria do banco. Estes departamentos, também conhecidos como “Proprietary trading desks”, negoceiam diversos instrumentos, no mercado à vista e em derivados, com o intuito de ganhar dinheiro para o próprio banco – e não para clientes do banco. Estão entre os funcionários mais bem pagos de qualquer banco de investimento. A concorrência é feroz e os melhores têm remunerações globais que podem ascender ao milhão de Euros. Por isso, a rotação associada ao cargo é, também, elevada. Não conheço em detalhe o tempo que um “prop trader” – assim se designam estes corretores – consegue aguentar sem ser despedido. Mas julgo que, em média, se aguenta um ou dois anos na função. O tempo suficiente para acumular uma boa fortuna.
Em Portugal, apesar de uma ou outra excepção, não existe ainda a cultura dos “prop traders”. A nossa banca não se encontra devidamente especializada, como acontece no estrangeiro, através de uma clara destrinça entre banca de retalho e de investimento. Contudo, no estrangeiro, todos os grandes bancos de investimento têm divisões preenchidas com profissionais que seguem, exclusivamente, esse mandato. Em Londres, por exemplo, as remunerações base variam entre 50 e 100 mil libras por ano, a que acrescem mais 10% das mais valias anuais registadas na gestão da carteira que o próprio banco atribui ao corretor. Na verdade, é o bónus anual, definido em função da performance de cada um, que permite ao “prop trader” chegar a uma remuneração anual de um milhão de Euros. O controlo da supervisão cabe ao banco que define a grelha de risco à qual os corretores se têm de submeter. Essa grelha é definida de forma a que nenhum corretor, motivado pelo desejo de fortuna pessoal, possa comprometer a solvabilidade do banco e, assim, reeditar o caso Nick Leeson.
As medidas de protecção internas, que existem nos bancos de investimento, custam milhões de Euros por ano. Além disso, dentro dos bancos, não há porventura classe mais vigiada que a dos “prop traders”. Porque lidam com o dinheiro do banco. E porque são incentivados a assumir risco. Logo, parece-me inconcebível que o senhor Kerviel, sozinho, tenha conseguido enganar todo o aparato interno do banco. De resto, o desastre de Kerviel não foi motivado pela perda percentual na sua posição – apenas perdeu cerca de 10%. A sua tragédia foi a alavancagem associada à transacção. Segundo foi divulgado, o corretor perdeu 5 mil milhões de Euros em futuros sobre índices de acções europeias, mas na realidade o valor subjacente às transacções ascendia a mais de 50 mil milhões. Assim, em futuros do Eurostoxx, a sua posição corresponderia, às cotações de então, a 1,3 milhões de futuros – um número superior ao volume médio de transacções diárias. Aliás, o primeiro alerta veio da própria bolsa onde o instrumento está cotado – a Eurex – que, em Novembro, avisou a Societe Generale da sua gigantesca posição. Na altura, Kerviel terá, supostamente, encontrado uma desculpa conveniente e convenceu todos da sua bondade. Mais recentemente, já em prisão preventiva, Kerviel afirmou ao Financial Times que, embora assumisse a sua responsabilidade no sucedido, não estava disposto a ser o “bode expiatório”.
(*) artigo publicado no semanário "Vida Económica" a 22 Fevereiro 2008
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