10 fevereiro 2008

Estratega

Nos últimos anos, muito se tem especulado sobre o carácter autoritário do nosso primeiro-ministro José Sócrates. A pose, o discurso e os relatos informais de quem circula junto do aparato político parecem sugerir que José Sócrates é a única voz activa no governo. Eu contesto. Porque, em teoria, o regime democrático não o permite. E porque, na prática, existem certos elementos neste governo que me intrigam. Em particular, o senhor ministro da Presidência: Pedro Silva Pereira.

Nas últimas semanas, enquanto o primeiro ministro fazia a gestão pública da remodelação ministerial, Pedro Silva Pereira dedicou-se a publicitar os resultados do executivo de Sócrates desde que o actual governo tomou posse. A esse respeito, a entrevista concedida à RTP2 foi simplesmente brilhante. É também este ministro que, regularmente, se vê na sombra do Presidente da República e que, estou eu convencido, é o elemento chave na convivência pacífica e construtiva que existe entre São Bento e Belém. Por fim, consta que é o maior confidente de José Sócrates.

No website do ministério da presidência está escrito que "a organização da agenda do Conselho de Ministros cabe ao Primeiro-Ministro, sob proposta do Ministro da Presidência". Não sei porquê, mas isto recorda-me a América. E Pedro Silva Pereira faz-me lembrar Karl Rove: o enigmático estratega na sombra do líder. Nos Estados Unidos, Rove falhou ao não segurar a maioria republicana no Senado e no Congresso. E, a partir daí, a presidência de Bush perdeu o norte - o próprio Rove acabou por se demitir. Em Portugal, o desafio de Pedro Silva Pereira é segurar Cavaco Silva. Será que o consegue? É que, não tarda nada, vem aí o discurso do 25 de Abril.

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