A teoria clássica defende que as cotações em bolsa são a tradução do real valor esperado das empresas e da economia. Contudo, George Soros, famoso especulador, sempre sugeriu o contrário: são os movimentos registados em bolsa que, depois, influenciam o desfecho na vida real. É o princípio, aplicado aos mercados, da “self fullfilling prophecy” – profecias que de tanto repetidas acabam por se verificar. Soros chamou-lhe “Reflexividade”. Os ensinamentos de Soros parecem ter sido estudados ao detalhe por Ben Bernanke, actual presidente da Reserva Federal norte-americana. Este está, ele próprio, a tentar especular à Soros. Boa sorte. Mas se falhar acabará como Nixon. Desacreditado. E com os Estados Unidos de pantanas.
A América precisa de um balão de oxigénio para continuar a suportar os défices crónicos de que sofre. Necessita daquilo a que o antecessor de Bernanke, Alan Greenspan, um dia designou de efeito riqueza (“wealth effect”). Algo virtual, mas que conforta o espírito das pessoas. Nos dias que correm, com o sector imobiliário de rastos, a solução é estimular o mercado de acções. Assim, o FED tem satisfeito as "expectativas" do mercado accionista. Foi em seu socorro há uma semana atrás com uma redução surpresa de 75pb. Ontem, voltou a não defraudar Wall Street - baixou mais 50pb. Ao orientar a política monetária em função dos humores do mercado accionista, o FED tem em vista um único fim: suportar as cotações. E, ontem, Bernanke reforçou o seu desespero com a seguinte mensagem: o FED está preparado para mais.
O mercado accionista é, para esta administração norte-americana, um assunto de interesse nacional. Tão importante quanto a presença militar no Médio Oriente. E Bernanke é o general ao serviço do Departamento de Tesouro. Sim, porque a descida da taxa de juro não contribui para resolver o problema de base: o endividamento crónico. Não é facilitando novas vias de crédito ou reduzindo o custo do dinheiro que se combate um problema de crédito a mais. Repito: o "subprime" é um problema de concessão excessiva de crédito. Portanto, se a estratégia de Soros funcionar, a acção do FED conduzirá o mercado accionista a novos máximos. Novas OPV’s. Mais riqueza. Mais emprego. Um maravilhoso mundo virtual. Contudo, Soros também falhava. Se a táctica do FED não resultar, Bernanke ficará associado à política monetária mais irresponsável de que há memória desde o fim de Bretton Woods.
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