22 dezembro 2007

the articles of the faith


Quando perguntaram a Hayek, que era um agnóstico, qual a melhor fé religiosa, ele não teve dúvidas em responder: a católica, "because it contains the articles of the faith". (Ele próprio acabou por ter um funeral católico). O episódio ilustra, talvez, a confiança que Hayek punha na discussão racional como meio para chegar àquilo que ele designava como the good society. Não era muita.

A ideia da morte de Deus e o ateísmo moderno não poderiam nunca ter saído senão da tradição protestante. Quando se reconheceu a cada homem a possibilidade de encetar uma relação directa com Deus, sem a intermediação da Igreja, o resultado não poderia ser outro: cada homem individualmente - e todos em conjunto - iria, em primeiro lugar, duvidar da existência de Deus, depois iria negar a Sua existência, ou matá-lo, a fim de poder ocupar o lugar d'Ele.

Tirando a Igreja do caminho, primeiro, e depois a própria ideia de Deus, ficou aberta a via para o assalto a dois dos mais importantes sentimentos que mantêm uma sociedade de pé, e dois sentimentos que andam de braço dado um com o outro: o altruísmo e a autoridade. E como consequência desses desenvolvimentos, o século XX viria a ser o século mais violento e o mais destruidor que a humanidade jamais conheceu.

Este período de violência e destruição sem precedentes coincidiu, sintomaticamente, com o período mais baixo da Igreja Católica em termos de influência social, ao ponto de, a partir de finais do século XIX e estendendo-se pela primeira metade do século XX, não terem sido raras as vozes que previam a sua extinção.

Por vezes, como notou Paul Johnson, os factos mais importantes da história não são aqueles que acontecem, mas aqueles que nunca acontecem. Deste ponto de vista, talvez dois dos mais importantes factos da história do século XX tenham sido a não-morte de Deus e a não-extinção da Igreja Católica.

Eu pertenço à classe daqueles que prevêem uma influência crescente da Igreja Católica no próximo século e a conversão de Tony Blair ao catolicismo, para além das influências familiares óbvias (a mulher é católica e os filhos são educados catolicamente) é um sinal de confirmação da minha crença.

A Igreja Católica é frequentemente acusada de ser uma instituição conservadora - e, na minha opinião, é isso que ela deve ser. Não compete à Igreja liderar a humanidade e assumir os riscos da liderança e da inovação - riscos que já a teriam desprestigiado e destruído. Pelo contrário, é a função principal da Igreja seguir atrás da humanidade, retendo os valores, as instituições e os comportamentos que, de uma forma permanente, provaram ser bons para a humanidade, sem nunca se deixar seduzir pelas modas e pelas popularidades dos tempos. E isso a Igreja, mau grado algumas cedências e hesitações, tem conseguido fazer, e o Papa Bento XVI que é um sofisticado conservador, fá-lo de forma eloquente.
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A Igreja Católica possui, na sua tradição, todos os ingredientes que, combinados num delicado equilíbrio, constituem as condições essenciais a uma sociedade livre, próspera e pacífica, como já notei numa série de posts publicados neste blogue e iniciada aqui. São eles: não possui orgão legislativo, possui democracia, possui abertura e meritocracia, possui descentralização e poder local, possui autoridade e hierarquia, não possui poder arbitrário, possui justiça humanizada, possui assistência aos pobres, possui igualdade de tratamento.

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