Alexandre Herculano, que na sua fase madura, eu considero ser um dos mais distintos - senão mesmo, o mais distinto - intelectual liberal que Portugal conheceu recomendava que, na instrução primária, o livro obrigatório devia ser o Novo Testamento.
Quase século e meio depois, eu faria a mesma recomendação. Aquilo que o affaire Tiago Mendes-Atlântico permite conluir, através das múltiplas manifestações de repúdio e de apoio, é que, se deixada à sua liberdade de decisão, os portugueses não conseguem sequer chegar a um consenso sobre as regras básicas da moralidade que permitem a vivência em sociedade. Não surpreende, por isso, que sob o regime de liberdade democrática Portugal nunca tenha progredido.
O insulto é um instrumento de agressão que serve para limitar o domínio de acção de uma pessoa e, no limite, submetê-la. Por isso, como escrevi em outro lugar, a primeira regra de comportamento de um homem que tenha em apreço a liberdade é a de tratar bem as outras pessoas. Numa sociedade feita de homens livres, o insulto - como todas as armas de agressão - só pode ser utilizado em legítima defesa.
Aquilo que o Tiago Mendes pretendia com os insultos sobre o AAA era que doravante este último se sentisse coagido a não emitir opiniões que o TM não aprovasse, ou a emitir somente aquelas que o TM aprovasse. O TM pretendia submeter o AAA, retirando-lhe a liberdade de expressão. Felizmente que só tinha o insulto à mão porque, se mandasse na polícia, é de presumir que o AAA estaria a esta hora na prisão.
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