Malalegria é um neologismo que inventei para traduzir o vocábulo germânico schadenfreude. Literalmente schadenfreude quer dizer alegria (freude) com o mal ou perdas (schaden) que ocorram a terceiros. Malalegria é por isso uma simples tradução literal. Vamos ver se pega!
Apesar da sua origem germânica, o sentimento de malalegria não está de modo algum circunscrito a qualquer país ou época e pelo contrário parece estar bem disseminado. Nos países de língua inglesa o termo foi até cooptado directamente do alemão e é de uso corrente.
Não conheço nenhuma explicação satisfatória para este sentimento tão prevalecente. As mais vulgares dizem que é um prazer que advém de sabermos que as desgraças que ocorreram a outros poderiam ter ocorrido connosco e seria portanto uma espécie de sentimento de alívio.
Não gosto dessa explicação porque me parece que a malalegria está muito mais associada a uma espécie de vingança, quando alguém não segue os nossos conselhos, por exemplo, e sofre um percalço.
A malalegria poderá estar ainda associada ao chamado "killer instinct" e ser uma componente indissociável deste. Quando o povo diz: Não tenhas pena da galinha se não ela não morre, talvez esteja a transmitir esta ideia.
As crianças deliram com malalegria quando algum infortúnio ocorre perante os seus olhos e um elemento importante da educação é domesticar essa tendência. Numa população infantilizada, tese que eu tenho vindo a defender, seria de esperar que a malalegria estivesse omnipresente, como num jardim de infância. É esse o caso?
Com certeza! Os portugueses adoram as atribulações de terceiros e rezam pelas desgraças alheias. Apresento como evidência o tempo que os canais de televisão dedicam a explorar os entrefolhos de mil e uma misérias humanas.
A malalegria tem ainda outra vertente importante. Tolhe a iniciativa individual e a diferenciação dos portugueses porque correndo riscos podemos falhar e se falharmos seremos o alvo de chacota. Mais vale pôr o bibe e não dar nas vistas!
Autor: Joaquim Sá Couto, enviado por mail
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