18 dezembro 2007

Estado-Máximo

O menino-mimado ambiciona viver - e sente-se com direito a viver - à custa dos outros. Tal é, porém, impossível, numa sociedade onde todos são meninos-mimados, e enquanto as relações entre eles se mantiverem relações voluntárias. Sendo cada um deles um egoísta radical, nesta sociedade ninguém dá nada a ninguém - excepto se fôr forçado.

O Estado representa o monopólio da coerção na sociedade. Daí a atracção que o Estado exerce sobre o menino-mimado. O Estado é a única instituição que permite ao menino-mimado viver à custa de todos os outros. Numa sociedade de meninos-mimados, o Estado torna-se a instituição mais disputada da sociedade. Aqueles que já conseguiram lugares na esfera do Estado protegem-se. Os que estão de fora, protestam, esperneiam, gesticulam, fazem greves, minam, não com o objectivo de pôr o Estado ao serviço dos cidadãos - porque não existe uma réstea de altruísmo no menino-mimado - mas com o propósito de desalojar e substituir os que já lá estão ou, no mínimo, partilhar com eles os benefícios.

Entre as diferentes facções de meninos-mimados que nesta sociedade tendem a surgir com vista a conquistar o poder do Estado, a solução que acomoda as diferentes facções, concedendo a cada uma delas um certo número de lugares na esfera do Estado, tende a prevalecer, porque é aquela que envolve menor risco, em comparação com a estratégia alternativa de confronto, em que uma facção dominante exclui as demais.

Por isso, numa sociedade de meninos-mimados, o Estado tende a crescer sem limite à medida que a facção que, em cada momento, é dominante se vê obrigada a respeitar as posições conquistadas pelas demais facções e a acomodar novas posições, em nome da paz social. Numa sociedade livre e de meninos-mimados o crescimento do Estado é a condição sine qua non da paz social porque é ele que, pelos privilégios que dispensa a um número crescente de meninos-mimados, cala as vozes contestatárias e evita aquilo que, de outro modo - isto é, se os meninos-mimados ficassem em grande maioria fora da esfera do Estado - seria um verdadeiro pandemónio e uma sociedade em que seria impossível viver.

Estão, por isso, equivocados os autores liberais como von Mises, Ayn Rand ou Rothbard que, defendendo um individualismo radical, apelam, em seguida, ao Estado-Mínimo. Trata-se de uma contradição lógica. Numa sociedade onde prevalece o individualismo radical do menino-mimado, o Estado que vai prevalecer é o Estado-Máximo, não o Estado-Mínimo. Alternativamente, para que o Estado-Mínimo pudesse prevalecer na sociedade, esta teria de ser composta por cidadãos predominantemente altruistas - exactamente o contrário daquilo que os meninos-mimados são.

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