Dois eventos históricos contribuiram de forma determinante para o individualismo infantil dos portugueses. A tutoria e o mamismo, que se reforçaram mutuamente pela sua sequência temporal. Refiro-me ao Estado Novo e ao post-25 de Abril.
Salazar, enquanto patriarca, não foi um líder iluminado que nos tivesse preparado para os desafios futuros, nem um déspota prepotente que inspirasse revoluções. Penso que lhe podemos atribuir a figura de um tutor que foi chamado para meter a canalha na ordem e que levou a tarefa a preceito. Reprimiu a "funesta mania de pensar" e castigou os que dele discordavam, castrando a inciativa individual e menorizando a cidadania. Governar, dizia-se, era uma complexa tarefa que não estaria ao alcance de qualquer um e afirmava-se mesmo que o povo não estava preparado para a democracia. Salazar, enquanto pater familias, tomava conta de tudo e de todos. Este regime de tutoria, ao longo de décadas, deixou as suas marcas.
Uma dessas marcas é o ódio que os portugueses têm a qualquer pessoa que se arroje a ter opinião própria. O homunculus Salazarista que nos habita considera que quem tem opinião própria deve ser condenado na praça pública ou até desterrado para o Tarrafal.
Após o 25 de Abril tornou-se logo evidente que o Estado Novo nos tinha deixado impreparados para nos governarmos. O mamismo destes últimos anos agravou porém o nosso infantilismo e desenvolveu um individualismo radical, feito de birras e caprichos.
Após liquidarem o Pai, os meninos penduraram-se nas mamocas do Estado e dedicaram-se a desconstruir o País. O problema agora é que as mamocas estão secas e o recreio terminou. Os meninos, contudo, recusam-se a encarar a realidade e preferem continuar a acreditar no Pai Natal !
Aproveito para agradecer aos donos do blog a oportunidade de dar a minha opinião.
Autor: Joaquim Sá Couto, enviado por e-mail
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